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Castigos e humilhações

Depois de tanta ousadia, os gregos só podiam merecer o castigo. Primeiro ousaram eleger um governo de esquerda (esquerda radical, onde se insere a verdadeira social-democracia e o verdadeiro socialismo); depois esse governo, coligado com um partido que não pertence à dita esquerda radical, de seu nome Anel, bateu o pé a mais austeridade - o país devastado pela miséria simplesmente não aguentaria mais austeridade -, e finalmente esse mesmo governo ousou convocar um referendo para se relegitimar e para aferir sobre o posicionamento do povo grego. Foram longe demais e durante este fim-de-semana vieram os castigos e as humilhações.
Os castigos e humilhações passaram por mais doses cavalares de austeridade, pela eminência de saída do país do euro (desde a primeira hora) e pelo confisco de 50 mil milhões de euros de património, num exercício próprio de tempos coloniais. Tudo isto feito contra um país da União Europeia e da Zona Euro.
A Europa fez uma das figuras mais tristes de si própria, abrindo precedentes e feridas que dificilmente conhecerão atenuantes: a expulsão de um país da Zona Euro; a perda absoluta de soberania, ainda mais acentuada nos Estados que ousem contrariar a deriva neoliberal e ordoliberal; o desrespeito inexorável pela democracia e pelos seus instrumentos - instrumentos que mereceram também o seu castigo; a não aceitação de um governo que se desvie da referida deriva neoliberal e ordoliberal; o poder incomensurável da Alemanha que se preparou para destruir, pela terceira vez, a Europa.

O castigo chegou e o projecto europeu é hoje uma verdadeira anedota. Quantos é que ainda se podem declarar europeístas? 

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