Avançar para o conteúdo principal

Bem-vindos ao surreal

A coligação PSD/CDS participou num novo exercício que desafia claramente as leis do real, isto por ocasião da apresentação do programa de governo que contou com declarações de Passos Coelho e Paulo Portas.
A retórica do costume resume-se a uma cacofonia de acusações dirigidas ao anterior governo e a promessas patéticas - tudo num desafio permanente do real.
Passos Coelho reclama para si a luta por Abril, insinuando ter alguma espécie de respeito pela herança de Abril (?), isto dito por quem mais contribuiu para destruir os princípios que emanam desse período da história do país. O ainda primeiro-ministro insiste em desafiar o real: todo o mal do mundo deriva do mesmo sítio: o largo do rato, nº 2. Os socialistas são acusados de tudo: da bancarrota e do resgate, na verdade impulsionado por Portas e Passos Coelho, da única forma que conhecem - através da insídia. Com mais um bocadinho de imaginação, pode-se inclusivamente depreender que o PS é responsável por toda a crise que assolou o mundo em 2008. Bem-vindos ao surreal.
Outra estratégia com vista a dominar os néscios prende-se com o medo e Passos Coelho, recorrendo às suas parcas capacidades intelectuais, promove o medo: medo de votar no PS e voltar a cair num novo cataclismo (Portas já relacionou uma hipotética vitória do PS a um terceiro resgate), e agora medo das agências de rating que, aparentemente vão estar em suspenso até dia 4 de Outubro - sim, as mesmas agências de rating que, com as suas análises, deram uma boa ajuda à crise de 2008; sim, já para não falar da torrente de dinheiro que o BCE injecta nos mercados financeiros para manter o euro à tona de água - nada disso entra no discurso sórdido de Passos Coelho.
Quanto ao programa - o propósito de juntar tanta gente ilustre na mesma sala - temos mais do mesmo, com excepção da Segurança Social onde se pretende dar início à privatização parcelar. Aqui assume-se ter a intenção de ir mais longe.

Em suma, e até Outubro vale tudo: o patético, o que desafia o real, a mentira. Contas feitas, resta uma mediocridade sem precedentes.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...