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A teimosia da Europa

A Europa mostra uma irascibilidade crescente em relação à Grécia. O referendo do passado domingo apenas veio agravar essa irascibilidade misturada com uma teimosia que custará caro à própria Europa.
O BCE, cujas funções são discutíveis, mas claras, age como punidor da Grécia, recusando aumentar a linha de emergência aos bancos gregos, empurrando a Grécia para uma situação real de colapso do seu sistema bancário. Será esta a função do Banco Central Europeu? O homem da Goldman Sachs, Mario Draghi, parece pensar que sim. Resta saber se esta postura do BCE não pode ser contraproducente e resultar num conjunto de consequências jurídicas accionadas pela Grécia contra esta e outras instituições europeias. A Grécia está a ser claramente empurrada para fora do euro, mas existem tratados que não podem ser ignorados.
A Grécia, governada pela esquerda, não é bem-vinda no clube europeu - um clube, mais do que uma união, trata-se de um clube em que os seus membros tem de ser neoliberais ou próximos disso. A Europa nem se apercebe que este comportamento acéfalo e necrófago (países que lucram com a desgraça de outros Estados-membros) a enfraquece e dita o seu fim enquanto projecto Europeu de paz, solidariedade e justiça.

Paralelamente, as consequências deste comportamento (já anteriormente explanadas aqui) serão inequivocamente desastrosas para a estabilidade da própria Europa e não só. Temo que a teimosia das lideranças dos vários Estados-membros (preocupadas simultaneamente em agradar aos seus patrões e em vencer internamente os períodos eleitorais que se avizinham) e as lideranças das instituições europeias empurrem a Grécia para um situação ainda pior e irreversível, no plano europeu. A teimosia e a estupidez são conhecidas precisamente por não terem limites. Parece ser esse o caso.

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