O
acordo entre Grécia, instituições europeias e FMI ainda não se
conhece na totalidade. Nem tão-pouco se haverá acordo. Mas o
objectivo das lideranças europeias é conhecido: derrubar o governo
do Syrisa. Espera-se que os gregos não caiam na esparrela e que o
Syrisa não acabe dividido, inexoravelmente dividido e inviabilizado.
É esse o objectivo de boa parte das lideranças europeias.
Dir-se-á
que sem renegociação da dívida não há verdadeiramente qualquer
ganho para os gregos e que a austeridade não está verdadeiramente a
ser travada. Talvez. Porém, o facto é que o Syrisa empreendeu uma
luta sem quaisquer apoios, defronte a uma Europa decidida a trucidar
tudo o que o Syrisa representa. E se o povo grego se dividir e
sucumbir às divergências inconciliáveis, e se o mesmo acontecer
com o próprio Syrisa, as ditas lideranças europeias ganharão;
vencerá a tese de austeridade até à morte; morrerá o sonho de
fazer diferente, de lutar contra as injustiças, de ter um futuro que
não passe pelo definhamento humilhante.
A
Grécia precisa de dinheiro e de tempo; a Grécia precisa de apoio; a
Grécia precisa de alianças na Europa; a Grécia não pode desistir.
O seu falhanço é o falhanço de todos aqueles que um dia ousaram
sonhar com uma Europa diferente, mais justa, mais próxima do ideal
europeu. O seu falhanço dará lugar ao triunfo do medo, da pequenez
e da perpetuação do sofrimento - algo a que nós portugueses nos
temos vindo a habituar, provando que há povos que se limitam a
sofrer no silêncio sem sequer procurarem combater a raiz do seu
sofrimento.
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