Avançar para o conteúdo principal

Um objectivo

O acordo entre Grécia, instituições europeias e FMI ainda não se conhece na totalidade. Nem tão-pouco se haverá acordo. Mas o objectivo das lideranças europeias é conhecido: derrubar o governo do Syrisa. Espera-se que os gregos não caiam na esparrela e que o Syrisa não acabe dividido, inexoravelmente dividido e inviabilizado. É esse o objectivo de boa parte das lideranças europeias.
Dir-se-á que sem renegociação da dívida não há verdadeiramente qualquer ganho para os gregos e que a austeridade não está verdadeiramente a ser travada. Talvez. Porém, o facto é que o Syrisa empreendeu uma luta sem quaisquer apoios, defronte a uma Europa decidida a trucidar tudo o que o Syrisa representa. E se o povo grego se dividir e sucumbir às divergências inconciliáveis, e se o mesmo acontecer com o próprio Syrisa, as ditas lideranças europeias ganharão; vencerá a tese de austeridade até à morte; morrerá o sonho de fazer diferente, de lutar contra as injustiças, de ter um futuro que não passe pelo definhamento humilhante.

A Grécia precisa de dinheiro e de tempo; a Grécia precisa de apoio; a Grécia precisa de alianças na Europa; a Grécia não pode desistir. O seu falhanço é o falhanço de todos aqueles que um dia ousaram sonhar com uma Europa diferente, mais justa, mais próxima do ideal europeu. O seu falhanço dará lugar ao triunfo do medo, da pequenez e da perpetuação do sofrimento - algo a que nós portugueses nos temos vindo a habituar, provando que há povos que se limitam a sofrer no silêncio sem sequer procurarem combater a raiz do seu sofrimento.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Direitos e referendo

CDS e Chega defendem a realização de um referendo para decidir a eutanásia, numa manobra táctica, estes partidos procuram, através da consulta directa, aquilo que, por constar nos programas de quase todos os partidos, acabará por ser uma realidade. O referendo a direitos, sobretudo quando existe uma maioria de partidos a defender uma determinada medida, só faz sentido se for olhada sob o prisma da táctica do desespero. Não admira pois que a própria Igreja, muito presa ao seu ideário medieval, seja ela própria apologista da ideia de um referendo. É que desta feita, e através de uma gestão eficaz do medo e da desinformação, pode ser que se chumbe aquilo que está na calha de vir a ser uma realidade. Para além das diferenças entre os vários partidos, a verdade é que parece existir terreno comum entre PS, BE, PSD (com dúvidas) PAN,IL e Joacine Katar Moreira sobre legislar sobre esta matéria. A ideia do referendo serve apenas a estratégia daqueles que, em minoria, apercebendo-se da su...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...