Avançar para o conteúdo principal

Relatório da Comissão para a Verdade Sobre a Dívida

O Relatório da Comissão para a Verdade Sobre a Dívida apresentado no Parlamento grego lança nova luz sobre a origem da dívida grega e aponta caminhos para sair desta ratoeira. A Comissão foi elaborada por especialistas de várias nacionalidades.
Segundo o relatório, a dívida antes da troika conheceu um aumento, não devido a despesa pública, mas graças a despesas milionárias na área da defesa, devido à fuga de capitais, à recapitalização da banca privada e aos juros exorbitantes. Ficou-se também a saber que o primeiro resgate foi feito em nome da banca privada e não do povo grego.
Outro aspecto abordado pelo relatório e que não constitui novidade prende-se com o facto da dívida ter gerado mais dívida em benefício da banca privada e estimulando um vasto plano de privatizações.
O relatório concluiu que o "ciclo da dívida resultou na violação de direitos humanos fundamentais, degenerando na urgência humanitária que o país vive. Assim justificam-se "mecanismos de repúdio e suspensão de uma dívida ilegal, odiosa e ilegítima". O argumento é fundamentado com a má fé dos credores que levaram a Grécia a violar a sua própria lei nacional, através da coerção e através da violação grosseira da soberania grega e da constituição.
Deste modo é natural que se evoque o direito reconhecido pela lei internacional que permite que um Estado adopte medidas de "resposta contra acções ilegais dos seus credores, que prejudiquem deliberadamente a soberania orçamental e o obrigam a assumir uma dívida odiosa, ilegal e ilegítima, violando a autodeterminação económica e direitos humanos fundamentais".
Este é o resultado de uma auditoria à dívida que não ficará seguramente esquecida. Hoje a Grécia precisa de tempo e de dinheiro, o que inviabiliza uma acção mais directa. Hoje importa conter a austeridade. Mas amanhã, e se a configuração política europeia for mais favorável, este relatório poderá ser determinante.

Essa configuração política não poderá contar com as criaturas mesquinhas e medíocres que ainda pululam por essa Europa fora. A começar por Portugal.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...