José
Gil, no seu livro Portugal, Hoje - O medo de Existir - afirma que "a
diferença com o passado é que o medo continua nos corpos e nos
espíritos, mas já não se sente." O livro de José Gil foi
publicado pela Relógio de Água Editores em 2004. Acrescentaria que
o medo voltou a sentir-se: medo de perder o emprego; o medo; o medo
de não ter a capacidade de pagar mais aquela prestação e o
subsequente medo de se ser alvo de penhora; o medo dos outros,
sobretudo o medo que os outros sejam melhores do que nós; o medo que
alguém nos roube o emprego; o medo de agir; o medo do devir.
O
medo voltou a sentir-se. Com efeito teria deixado de se sentir nos
anos subsequentes à democracia, mas regressou com um resgate e com
um Governo empenhado no empobrecimento e mais empenhado ainda em nos
tirar o futuro. O medo sente-se, invalidando a capacidade de agir.
Na
senda ainda do que José Gil professa, talvez não seja disparatado
referir que um povo incapaz de pensar e construir o seu real é
precisamente um povo que aceita qualquer real imposto. É exactamente
isso que tem acontecido, sobretudo nos últimos anos. Um povo
relegado para a não inscrição.
A
leitura do livro acima referido, volvidos mais de dez anos da sua
elaboração, é um exercício que recomendo sem qualquer hesitação.
Muitas das ideias plasmadas no livro de José Gil ajudam a
compreender o que se tem passado com o nosso país.
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