Há uma premissa que é tanto evidente
como essencial: nada se consegue sem luta, sem conquista e os
conflitos de interesse subjazem a essas mesmas necessidades. A
História ensina-nos isso mesmo. Tendo isto presente, o que fazer?
Votar naqueles que defendem os nossos
interesses e que se comprometem na luta pela defesa desses
interesses? Votar naqueles que, de forma mais ou menos evidente, não
estão dispostos a fazer essa defesa e essa luta, e que por norma
defendem interesses antagónicos, contrários ao interesse comum? Ou
nem sequer votarmos e deixarmos que as escolhas sejam feitas pelos
outros, correndo o risco de que esses outros façam escolhas que não
se conciliam com os nossos interesses?
É igualmente evidente que os
interesses de uns (uma minoria, por hipótese) e de outros (uma
maioria) são, as mais das vezes, absolutamente inconciliáveis. De
resto, hoje assistimos ao desaparecimento dos instrumentos de ilusão
que permitiam à classe média se aproximar dos que se encontram numa
posição superior. O crédito deixou de jorrar; o mesmo acesso ao
crédito que permitia adquirir bens que de outra maneira seriam
impossíveis de adquirir; bens que alimentavam a já referida ilusão,
levando-nos a esquecer os salários reduzidos que hoje atingem níveis
verdadeiramente deploráveis.
Resta-nos escolher – elemento
indissociável da própria condição humana. A escolha até parece
óbvia, porém a verdade é que não será assim para muitos de nós
que se deixam subjugar pela mentira, pelo medo, pela resignação,
pelas distracções mais bacocas, pela ignorância ou simplesmente por
um desinteresse que se tem generalizado.
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