Avançar para o conteúdo principal

Erro histórico

A saída da Grécia da Zona, aparentemente desejada por alguns, será um erro histórico para a Europa e não apenas pelas razões que se prendem em exclusivo com a Zona Euro, mas sobretudo pelos desequilíbrios no plano geopolítico.
A forma quase pueril como as instituições europeias lidou com o assunto é reveladora de uma união que caiu nas mãos dos interesses egoístas, invariavelmente relacionados com os grandes negócios. Do lado do governo grego, está-se a fazer o que se pode para não empobrecer ainda mais com concessões em matéria de superavit, respeito pelos privatizações, recuo no aumento do salário mínimo e algum recuo na questão da renegociação) Convém recordar que o PIB grego recuou 20 por cento; os rendimentos 50 por cento; o desemprego aumentou e continua a fuga de capitais; o Governo grego recusa mais cortes nas pensões - como é evidente.
O erro é histórico: com a saída da Grécia, mudar-se-ão as relações entre a Grécia e os restantes Estados-membros da UE; com a saída da Grécia, este país estreitará relações económicas, financeiras e políticas com a Rússia (e com a China), factor que contribui para um desequilibro no plano geopolítico, numa altura em que as relações entre EUA/Europa e Rússia estão longe de serem saudáveis, graças, em larga medida, ao problema ucraniano que, como se viu, mereceu uma abordagem desastrosa pela própria UE, encabeçada pela Alemanha. Coloca-se a questão energética, com o gasoduto e a aproximação da Grécia à Rússia e eventualmente a saída da Grécia da própria Nato.
A saída da Grécia, depois de impasses, de trapalhadas e de muita má-vontade (incluindo por parte do FMI, responsável por verdadeiros desaires económicos ao longo de mais de 60 anos) é um erro infantil e histórico, tudo graças a 0,5 por cento do PIB grego para o próximo ano e outras questiúnculas.
Quanto à posição do Governo português em todo este processo, não resta muito para dizer: mesquinha, vergonhosa e contrária aos interesses e ao futuro do país, na senda daquilo que os partidos da coligação nos têm oferecido ao longo destes quatro anos.

Na verdade, o que seria desejável para as instituições da troika, para algumas lideranças europeias e para parte interessada - a finança - não era tanto a saída da Grécia do euro, mas sim a saída do Syrisa do governo grego e o fim dos devaneios anti-austeridade. O que está em jogo é simples: Grécia deve manter-se no Euro, mas o Syrisa deve sair do Governo grego. Essa é a verdadeira ambição daqueles que têm concertado esforços para dificultar a vida aos gregos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa