Avançar para o conteúdo principal

Chantagem, ainda e sempre a chantagem

O referendo marcado para o próximo dia 5 de Julho que decidirá o rumo que os gregos querem dar às negociações com as instituições outrora conhecidas por troika apanhou essas mesmas instituições de surpresa. Os tecnocratas e aqueles que chafurdam num neoliberalismo bacoco foram apanhados desprevenidos, ainda para mais quando um instrumento democrático foi introduzido na equação.
A resposta, essa, não se fez esperar: o BCE não cede mais liquidez, obrigando as autoridades gregas a encerrarem os bancos durante a semana e a imporem limitações aos levantamentos por multibanco. Deste modo, os credores esperam que o pânico e o medo que se instalem e condicionem a votação do próximo domingo. Talvez assim vença o "sim" a mais austeridade, mesmo que as instituições procurem retirar importância ao referendo. A vitória do "sim" pode ser interpretada como uma derrota do Syrisa que faz campanha pelo "não" - uma derrota da ideia de que se pode contrariar a austeridade até à morte. Esta é uma estratégia arriscada, mas compreende-se a posição do Syrisa e, sobretudo, respeita-se a utilização de um instrumento democrático - o referendo, como forma de reforçar a legitimidade já conseguida em eleições pelo governo grego. Mesmo sob ameaça não se pode temer a resposta do povo, essa é a posição do Syrisa, uma posição rara na actual configuração política europeia.
Importa lembrar que o que estava em causa passava por mais cortes nas pensões, maior liberalização na legislação laboral, mais empobrecimento, mais desemprego, mais recessão e o agravamento da falta de liquidez do país. Inaceitável, portanto.

A chantagem é a arma escolhida pelas instituições europeias e FMI. O Syrisa escolheu a democracia

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...