As instituições europeias
encabeçadas pela Alemanha estão determinadas em fazer da Grécia o
exemplo de tudo o que está errado com uma liderança política que
se mostra contrária à ditadura da austeridade.
Esse exemplo de tudo o que está
errado deve forçosamente traduzir-se pelo falhanço clamoroso da
Grécia; um “falhanço” que serve na perfeição os intentos de
lideranças pusilânimes como é o caso da portuguesa.
Fora desta equação fica naturalmente
todo um contexto histórico indissociável do presente e
justificativo, em larga medida, do que se passa naquele país: um
contexto histórico marcado nos últimos dois séculos por invasões
de países como a Turquia, Rússia, Grã-Bretanha, França, Itália,
Bulgária e Alemanha; um contexto histórico marcado por monarquias
absolutistas encabeçadas por reis estrangeiros (incluído o famoso
rei Otto Ludwig, responsável pela “bavarocracia” - impostos e
taxas e serviços impostos pela banca alemã, francesa e britânica;
um contexto histórico marcado pelo saque aos recursos gregos e à
imposição de empréstimos de bancos franceses, ingleses e alemães
que contaram com a criação de uma oligarquia grega; um passado
tristemente marcado pela ocupação nazi e pelo consequente
desaparecimento de perto de 10 por cento da população grega e ainda
pelo saque ao Banco Central Grego e à destruição material do país;
uma história indissociável da ditadura dos coronéis, com a
participação de colaboracionistas do regime nazi e, finalmente, uma
historia que narra a entrada da Grécia na moeda única, com contas
forjadas, e com a conivência das instituições financeiras e da
Europa. Esta é a triste história da Grécia que contrasta com a
história de outro país que depois de ter sido responsável por uma
verdadeira hecatombe humana contou com o auxílio externo (Plano
Marshall) e com perdões de dívida; um país que tem uma dívida
histórica e vergonhosa precisamente com a Grécia; um país que,
paradoxalmente, exige da Grécia sacrifícios atrás de sacrifícios.
Pouco interessa relevar o facto do
Governo grego (Syrisa) ter conseguido aumentar as receitas e
controlar as despesas. Não interessa que o Governo grego tenha visto
a despesa ficar 2037 milhões de euros abaixo do previsto ou que as
receitas se situem nos 372 milhões acima do valor estimado. Este
saldo positivo e qualquer outro saldo eventualmente ainda mais
significativo não têm ou alguma vez terão qualquer importância
para as instituições europeias, que é o mesmo que dizer que não
têm qualquer importância para a Alemanha.
Por cá, no reino da pusilanimidade,
Passos Coelho espera retirar dividendos do “falhanço grego” e é
bem capaz de o conseguir, sobretudo se continuarmos a contar com um
povo que, pelo numa parte significativa, é pouco esclarecido, amiúde
adormecido e quando manifesta resquícios de vida mostra-se invadido
para uma inaudita apetência para o masoquismo.
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