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Substituições ou nem por isso

Depois de Yanis Varoufakis, ministro das Finanças grego, ter sido alvo de fortes críticas por parte dos protagonistas europeus, Tsipras, primeiro-ministro grego, escolhe uma nova coordenação para a equipa responsável pelas negociações com as instâncias europeias. O primeiro-ministro grego acaba por ceder.
A pressão é incomensurável, sem tempo, sem dinheiro e numa posição de absoluto isolamento, Alexis Tsipras procura refrescar a sua equipa e afastar animosidades. Todavia, Euclid Tsakalotos, apresentado pela comunicação social como moderado, não será mais moderado do que o próprio Varoufakis. Um sinal de que não se trata de uma cedência tão acentuada como boa parte da comunicação social quer veicular. A Grécia também neste particular encontra-se sozinha – a generalidade da comunicação social empenha-se em lançar um anátema sobre a Grécia e as suas escolhas democráticas. Este é também o resultado de uma comunicação social concentrada em grandes grupos económicos.
À Grécia pouco resta do que tentar aguentar-se à tona de água, na esperança de que a configuração política europeia possa sofrer algumas alterações, designadamente em Espanha. Caso contrário, e com o tempo a escassear, a Grécia acabará fora do euro e afastada de uma Europa doente, esquecida da História e inexoravelmente entregue aos interesses financeiros - numa verdadeira antítese do conceito de democracia: poder do povo que escolhe representantes dos seus interesses; ao invés, o poder do povo esvai-se num contexto de representantes de multinacionais e do sector financeiro e de anulação da soberania do povo.
A Grécia, encostada à parede, tenta reagir como pode. O sufoco económico e financeiro é o melhor caminho para liquidar ameaças como o Syrisa ou o Podemos. A estratégia não é nova e já foi experimentada com sucesso noutros contextos. Pelo caminho descredibiliza-se quem ousa ter um pensamento genuinamente social-democrata, hoje conotado com a esquerda radical.

Pelo menos parece que todos estão de acordo em dar cabo do projecto europeu, de uma vez por todas.

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