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Vitimização

Passos Coelho não tem outro caminho que não passe pela óbvia vitimização. Com o não pagamento de contribuições à Segurança Social, durante 5 anos, o primeiro-ministro viu a sua vida política e o seu futuro imediato complicarem-se. De resto, Passos Coelho conseguiu ultrapassar o caso da Tecnoforma, com dificuldade é certo, sendo que o caso da Tecnoforma caiu de facto no esquecimento. Todavia, a falta de pagamento de contribuições à Segurança Social afigura-se mais intrincado e acarreta menores possibilidades de efectivamente ser ultrapassado, sobretudo depois de Passos Coelho confessar conhecer a dívida desde o ano de 2012. Depois de anos de perseguição a contribuintes e trabalhadores e de um colossal aumento de impostos, o primeiro-ministro tem agora dificuldades em explicar a sua falha. Aliás, cada explicação corresponde a um tiro no pé, tal é a inabilidade política.
Assim, resta ao primeiro-ministro socorrer-se da vitimização. Em ano de eleições, há uma parte da comunicação social apostada em denegrir a imagem de Passos Coelho. (Comunicação social ao serviço de quem?). É esta a tese. "Preparem-se para tudo" terá dito Passos Coelho ao seu séquito.
Depois de tanta inflexibilidade e insensibilidade social, resta agora dar ares de coitadinho: "não sou um cidadão perfeito", mas não utilizei o lugar para enriquecer", ao contrário, depreende-se, de outros, alguns dos quais estão confinados a um espaço exíguo lá para os lados de Évora – inocente até prova em contrário.
Passos Coelho pode muito bem estar acabado politicamente e sabe-o bem. Resta-lhe então prestar-se ao papel de vítima, ainda assim, mostra as suas diferenças relativamente aos outros, numa espécie de divisão entre erros inocentes - os seus - e erros deliberadamente cometidos para enriquecer - o dos outros.

Para senhores como o primeiro-ministro a ética é palavra vazia de sentido e a política está muito longe de se subjugar a essa mesma ética. A arrogância bacoca, associada a uma inarrável incompetência chegam a ser transcendentes. A vitimização é um processo simples, até uma criança consegue fazê-lo e de forma bem mais convincente.

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