A
crise tem servido de desculpa para tudo, justificando amiúde o que
sempre existiu antes desta e de outras crises. O funcionamento da
administração pública é disso bom exemplo; o mau funcionamento da
administração pública, hoje mais acentuado devido aos cortes
impostos, justifica-se em larga medida porque essa mesma
administração pública é refém de interesses
político-partidários.
De
um modo geral, a partidocracia inviabiliza o bom funcionamento da
própria democracia. Hoje, candidatos nos concursos para dirigentes
do Estado que, apesar de ultrapassarem todos os obstáculos, vêm as suas
aspirações inviabilizadas por serem candidatos com ligações ao Partido Socialista. O inverso seguramente acontecerá daqui por mais
meia-dúzia de meses, ou seja a primazia será dada a candidatos com
ligações ao partido do Governo, muito possivelmente ligados ao PS.
Ora,
o mérito e a transparência ficam de fora de uma administração
pública que existe, em larga medida, para servir os interesses de
alguns partidos políticos, verificando-se o mesmo nas autarquias,
também elas frequentemente reféns de um partido político. O
resultado está à vista: uma administração pública ineficaz que
conta nos seus quadros com pessoas cuja única proeza é terem o
cartão de militância política certo.
Com
crise ou sem ela, esta é uma questão longe, muito longe, de ser
resolvida. A responsabilidade volta a ser nossa na precisa medida em
que insistimos nas receitas que degeneram num atraso colectivo.
Comentários