Avançar para o conteúdo principal

Partidocracia

A crise tem servido de desculpa para tudo, justificando amiúde o que sempre existiu antes desta e de outras crises. O funcionamento da administração pública é disso bom exemplo; o mau funcionamento da administração pública, hoje mais acentuado devido aos cortes impostos, justifica-se em larga medida porque essa mesma administração pública é refém de interesses político-partidários.
De um modo geral, a partidocracia inviabiliza o bom funcionamento da própria democracia. Hoje, candidatos nos concursos para dirigentes do Estado que, apesar de ultrapassarem todos os obstáculos, vêm as suas aspirações inviabilizadas por serem candidatos com ligações ao Partido Socialista. O inverso seguramente acontecerá daqui por mais meia-dúzia de meses, ou seja a primazia será dada a candidatos com ligações ao partido do Governo, muito possivelmente ligados ao PS.
Ora, o mérito e a transparência ficam de fora de uma administração pública que existe, em larga medida, para servir os interesses de alguns partidos políticos, verificando-se o mesmo nas autarquias, também elas frequentemente reféns de um partido político. O resultado está à vista: uma administração pública ineficaz que conta nos seus quadros com pessoas cuja única proeza é terem o cartão de militância política certo.

Com crise ou sem ela, esta é uma questão longe, muito longe, de ser resolvida. A responsabilidade volta a ser nossa na precisa medida em que insistimos nas receitas que degeneram num atraso colectivo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa