Entre
cofres cheios e apelos à multiplicação, na senda do "crescei
e multiplicai-vos" do Génesis, agora é a vez de Passos Coelho
reforçar a tese dos cofres cheios, tornando-se notória a apetência
de membros deste Governo para o regresso a discursos próprios do
Estado Novo. Desta feita, os cofres não estão cheios de ouro, como
Salazar afirmava, mas cheios de dívida e de dinheiro parado no BCE,
com custos inerentes. A única similitude entre as situações
referidas prende-se com a dificuldade de se viver em Portugal: o
velho paradoxo de cofres cheios e estômagos vazios. Os cofres cheios
de dívida (entre dívida efectiva e dinheiro parado no BCE, oriundo
de dívida e também ele com custos é também o reconhecimento da
fragilidade da economia portuguesa e do carácter volátil da Zona
Euro de uma situação que, de resto, nos escapa ao controlo. Se a
desgraça chegar e quando chegar esses cofres cheios de dinheiro
serão panaceia para pouco tempo. Sobre a dimensão incomensurável da dívida pública, nem uma palavra dos membros do Governo.
Quando
Maria Luís Albuquerque, falando para jovens do PSD, proferiu as
referidas afirmações, sobretudo aquela que dizia respeito aos
cofres cheios, acabou por ser, naturalmente, alvo de críticas
oriundas da oposição e não só. Mas como com este Governo uma
asneira nunca vem só, o primeiro-ministro, desta feita nos Açores,
vem reiterar as afirmações da ministra das Finanças, adoptando um
tom quezilento para dizer o que simplesmente não deveria ser dito.
A
insensibilidade social tem sido marca indelével deste Governo e não
parece ter limites. Num outro registo, bem mais humano, é
importante dizê-lo,
António Costa salientou a existência dos
níveis inaceitáveis de
pobreza e do desemprego como factores que deveriam
precisamente inviabilizar o recurso àqueles artifícios
retóricos que nos remetem para tempos idos e não desejados.
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