As
negociações entre o Eurogrupo e a Grécia correram manifestamente
mal. Um bom presságio do que viria a acontecer terá sido a frase do
ministro das Finanças alemão quando afirmou que sentia pena dos
gregos por terem escolhido um “governo que se porta de forma
irresponsável”. Palavras inadmissíveis, mas que são o espelho de
uma Europa refém da Alemanha cuja hegemonia se consolida a cada dia
que passa, perante a pusilanimidade dos líderes dos restantes
Estados-membros europeus.
O
ultimato é evidente: ou a Grécia aceita as condições da Alemanha,
porque é disso que se trata, ou sairá da Zona Euro. Ou a Grécia
aceita a austeridade ou terá de abandonar a moeda única. Pelo
caminho fica uma primeira proposta retirada à ultima da hora e
tentativas de esconder uma proposta que os cidadãos europeus têm
todo o direito de conhecer. Novamente, esta é a Europa que despreza
os seus cidadãos, vergada aos interesses de um único país e aos
ditames da alta finança. Os cidadãos, nesta equação, há muito
que deixaram de contar.
A
estratégia da Alemanha passa por isolar a Grécia, contendo assim um
possível efeito de contágio, através do Podemos em Espanha ou até
mesmo o Sinn Féin na Irlanda. A hegemonia alemã não será posta em
causa e a política que impôs à Europa, e cujos benefícios são
exclusivamente seus, não pode ser posta em causa. Para tal conta com
criaturas cinzentas, afundadas na mais profunda inanidade: de
Hollande, passando Rajoy e acabando no inefável Pedro Passos Coelho.
A Europa persegue o seu membro mais fraco – aquele que está numa
posição mais difícil – e ainda há quem assista e aplauda.
O
resultado deste ultimato pode ser desastroso para toda a Europa. Por
um lado, insiste-se na austeridade que tem vindo a destruir boa parte
dos países europeus; por outro, ao isolar-se um país, ao insistir
na humilhação caminha-se em sentido contrário à filosofia da
própria União Europeia e empurra-se esse país para soluções que,
eventualmente, possam passar por outros países fora da Europa. Um
erro crasso que ficará na História.
Comentários