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Quando o tudo é relativo

Depois do país se aperceber - finalmente - que o Sistema Nacional de Saúde está particularmente enfraquecido, consequência das políticas deste Governo, e depois também do aumento da visibilidade em torno das dificuldades no acesso a um medicamento que cura a hepatite C, o primeiro-ministro afirma: "Deve-se fazer tudo para salvar vidas, mas não custe o que custar". Separando a oração: "Deve-se fazer tudo para salvar vidas..." - afirmação que não podia deixar de ser proferida por um primeiro-ministro; "...mas não custe o que custar" - a utilização da adversativa depois de anteriormente ter recorrido à palavra "tudo", uma conclusão muito ao jeito de Passos Coelho, um primeiro-ministro que nunca escondeu verdadeiramente o seu desprezo pelos cidadãos.
Dir-se-á que o primeiro-ministro se referia ao laboratório farmacêutico que cobra um valor obsceno pelo medicamento que trata a hepatite C. Todavia, uma coisa não invalida a outra, ou seja: deve-se fazer tudo para salvar vidas, o que implica o tratamento dos pacientes mesmo durante o processo de negociação com o laboratório. É simplesmente inadmissível que, enquanto dura o processo de negociações com a farmacêutica, vão morrendo pessoas.
Assim como é inaceitável que existam outras prioridades, conhecidas por todos nós, que não esperam pela resolução dos problemas até à “morte”. Prioridades.
Para Passos Coelho o "tudo" é relativo, o que se aplica à maioria de nós que estamos longe de pertencer à casta a quem o primeiro-ministro presta contas.



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