Avançar para o conteúdo principal

Quando o tudo é relativo

Depois do país se aperceber - finalmente - que o Sistema Nacional de Saúde está particularmente enfraquecido, consequência das políticas deste Governo, e depois também do aumento da visibilidade em torno das dificuldades no acesso a um medicamento que cura a hepatite C, o primeiro-ministro afirma: "Deve-se fazer tudo para salvar vidas, mas não custe o que custar". Separando a oração: "Deve-se fazer tudo para salvar vidas..." - afirmação que não podia deixar de ser proferida por um primeiro-ministro; "...mas não custe o que custar" - a utilização da adversativa depois de anteriormente ter recorrido à palavra "tudo", uma conclusão muito ao jeito de Passos Coelho, um primeiro-ministro que nunca escondeu verdadeiramente o seu desprezo pelos cidadãos.
Dir-se-á que o primeiro-ministro se referia ao laboratório farmacêutico que cobra um valor obsceno pelo medicamento que trata a hepatite C. Todavia, uma coisa não invalida a outra, ou seja: deve-se fazer tudo para salvar vidas, o que implica o tratamento dos pacientes mesmo durante o processo de negociação com o laboratório. É simplesmente inadmissível que, enquanto dura o processo de negociações com a farmacêutica, vão morrendo pessoas.
Assim como é inaceitável que existam outras prioridades, conhecidas por todos nós, que não esperam pela resolução dos problemas até à “morte”. Prioridades.
Para Passos Coelho o "tudo" é relativo, o que se aplica à maioria de nós que estamos longe de pertencer à casta a quem o primeiro-ministro presta contas.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...