Diz-se
por aí que a Grécia nada conseguiu com o acordo da passada
sexta-feira. Este pretenso falhanço grego é motivo de regozijo de
muitos que torcerem para que a Grécia, que ousou fazer uma escolha
considerada radical, fracasse clamorosamente.
Ainda
assim, parece-me justo enumerar um conjunto de lições a retirar da
afronta grega:
1
- A prevalência de uma incapacidade generalizada no reconhecimento
do falhanço da austeridade. Mesmo em relação à dívida pública
grega importa lembrar que em 2010 esta era de 133% e em 2014
ultrapassou os 175% (a previsão da troika apontava inicialmente para
144%).
2
- A hegemonia da Alemanha nunca foi tão clara e quem desafia o poder
alemão é esmagado. Esse referido poder consolida-se à custa da
pusilanimidade do resto das lideranças políticas europeias.
3
- As lideranças políticas mais pífias das últimas décadas são
acompanhadas pela ilusão de uma Europa de instituições que na
prática são esvaziadas de qualquer poder - o que se tornou evidente
com as declarações de Jean Claude Junker que, mais uma vez, não
têm qualquer consequência. Na Europa, Zona Euro e União Europeia,
só existe a Alemanha, o resto é história, pusilanimidade e
hipocrisia.
4
- O desafio da Grécia era e continua a ser incomensurável, sendo a
probabilidade de sucesso mínima. Uma situação que se agrava
naturalmente com o isolamento absoluto a que a Grécia foi sujeita,
consequência também da tibieza das restantes lideranças políticas.
Assim como convém relembrar que, no passado, quando as lideranças
europeias foram pífias e associadas à hegemonia de um país, o
desfecho foi sempre desastroso.
5
- A Grécia conseguiu tempo e pouco mais. Tempo para arrumar a casa e
consolidar a possibilidade de ver o seu isolamento mitigado com uma
possível reconfiguração política em alguns Estados-membros,
designadamente em Espanha.
6
- A estupidez não conhece, de facto, limites e não se cinge apenas
a algumas lideranças políticas. A própria Alemanha parece padecer
desse mal. Em última instância, a Grécia sairá do Euro e a
estupidez reside em não se dar a devida importância às implicações
geo-estratégicas dessa saída; uma saída que acarretará
consequências que ultrapassam em muito as questões económicas e
financeiras.
7
- Paralelamente, existem
povos que simplesmente não aceitam a submissão, a subserviência e
a escravatura. A Grécia escolheu uma solução política que procura
defender os interesses dos cidadãos gregos em oposição às
soluções do costume. Uma opção que, estranhamente, inquieta
tantos. Sublinhe-se que o anterior Governo de Samaras tinha-se
comprometido com mais austeridade já para este mês de Fevereiro,
designadamente através de cortes nas pensões e aumento do IVA. Para saber mais sobre as vitórias e concessões do Governo Grego ver artigo de Francisco Louçã.
8
- Finalmente, a lição que mais directamente nos diz respeito: a
verdadeira natureza do Governo português que não conhece limites
para sobreviver, comportando-se de forma semelhante a um animal
acossado e moribundo que ainda mantém uma réstia de força e de
esperança em sobreviver. Esta postura apenas vem confirmar aquilo
que já se sabia: Passos Coelho tudo fará para sobreviver, não
existindo quaisquer limites. Deste modo, os interesses dos cidadãos
são qualquer coisa de somenos e os limites à estupidez não existem
na actuação do Executivo de Passos Coelho, sobretudo com a
incapacidade de perceber que ninguém apreciou a aproximação
excessiva à Alemanha - num exercício da subserviência mais bacoca.
Não há limites para a pequenez e para a mediocridade. Em suma, nem
se conserva o mínimo
respeito por si próprio.
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