Todos apreciamos histórias que
começam por “Era uma vez”; histórias como esta:
Era uma vez um pequeno cão rafeiro
que durante boa parte da sua vida andou sem rumo. Um dia alguém lhe
deu um osso, mas o nosso pequeno cão foi incapaz de manter o osso
junto de si, simplesmente perdeu-o.
Ainda assim, e apesar do rafeiro ter
uma propensão para o fracasso e para a idiotia, o homem que lhe deu
o osso juntou-se a outros homens para lhe dar um osso ainda maior. É
evidente que todos esses homens queriam contrapartidas do cão – o
osso não era uma simples oferta, até porque, na verdade, ninguém
nutria afeição pelo canídeo. O cão, de pequenas dimensões,
possuidor de um ladrar agudo e exasperante, e distante daquilo que
reconhecemos como sendo a esperteza de alguns animais, ficou então
fascinado por uma mulher oriunda da Alemanha. Esta mulher de origem
bávara e os seus acólitos eram absolutamente desprovidos de
interesse, mas tinham poder, talvez o suficiente para fascinar o
nosso pequeno cão que, doravante, passou a manifestar um desprezo
por tudo e por todos. Os únicos merecedores da sua devoção e da
sua lealdade eram os alemães, em particular a dita mulher. Aqueles
que discordavam da mulher alemã sabiam que tinham de contar com o
ladrar e o rosnar do pequeno rafeiro. O canídeo chegou ao ponto de
ser incapaz de passar junto a um grego sem ladrar e, inclusivamente,
tentar morder.
Assim, o nosso amigo de quatro patas
passou o resto da sua vida com o nariz encostado ao traseiro da
mulher alemã, mesmo que esta não denotasse pelo rafeiro particular
afeição, muito pelo contrário; o cão passou o resto da vida sem
conhecer afeição de todos aqueles com que se cruzou, destinado a
manter o nariz encostado ao traseiro de alguém que nem tão-pouco
alguma vez nutriu por ele quaisquer resquícios de simpatia. A
fidelidade canina nem sempre é merecedora de qualquer reciprocidade.
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