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Vitória do Syrisa

A vitória do Syrisa significa a possibilidade, pela primeira vez real, de assistirmos a uma mudança. Apesar das dificuldades e apesar das pressões, o povo grego deu uma grande lição de democracia.
Mas o que significa uma vitória deste partido de esquerda radical?
Significa desde logo a mudança, uma mudança que se começou a sentir ainda antes das eleições gregas do passado domingo, com um ligeiro abrandamento da chantagem a que a Grécia tem sido sujeita, em particular nas últimas semanas. Uma mudança que se consubstancia na introdução – mais uma vez que ultrapassa a mera retórica – da reestruturação da dívida grega e das dívidas de outros países da zona euro e é aqui reside a mudança que interessa verdadeiramente a boa parte da Europa: com Tsipras, o novo primeiro-ministro grego, poderá assistir-se, finalmente, à união de várias lideranças europeias cujos países foram devastados pela austeridade e pela dívida – essa aliança é fundamental para se alterar o rumo desastroso da zona euro e da União Europeia. Finalmente, um desses países devastados pela austeridade e pela dívida tem uma liderança que propõe uma mudança tão necessária que outros poderão seguir. Existe uma visão da Europa que é partilhada por vários partidos e movimentos políticos, finalmente assistimos à chegada ao poder de um partido que tem essa mesma visão. Esta é uma excelente notícia.
É evidente que as dificuldades são incomensuráveis para Tsipras e para o Syrisa: a Grécia está numa situação de grande fragilidade e depara-se com a intransigência da Alemanha. Neste contexto em particular, a referida união de países que partilham as mesmas dificuldades poderá ser a chave do sucesso, garantindo a viabilidade de alternativas que seguramente não são vistas com bons olhos por aqueles que querem manter o actual estado de coisas.
Finalmente, a vitória do Syrisa, não deixando margens para dúvidas, é também mais um sinal do falhanço retumbante das políticas de austeridade impulsionadas por uma UE vergada aos ditames alemães, por muito que as ameaças subsistam e até subam de tom - assim se espera nos próximos tempos. Entre a esperança e as ameaças, venceu a esperança, pelo menos na Grécia.

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