Os
membros do ainda Governo, designadamente Pedro Passos Coelho e Paulo
Portas, têm afirmado e reafirmado que Portugal não é a Grécia. E
eu respondo: que pena!
Dir-se-á
que que os referidos membros do Governo fundamentam a afirmação em
epígrafe com o "bom desempenho" da economia portuguesa e
com o "sucesso" das políticas de austeridade (impossível
não utilizar aspas). O "bom desempenho" não existe e o
"sucesso" traduz-se em empobrecimento do país. Outros
dirão que não somos a Grécia porque aquele país apresenta ainda
maiores dificuldades do que nós, por essa ordem de ideias, espera-se
que a Holanda, a Finlândia, a Bélgica, a França ou a esmagadora
maioria de países que se encontram em melhor situação económica
(crescimento da economia, taxas de desemprego, investimento, défice,
dívida, etc) venham a proferir as mesmas afirmações. E se queremos falar de dívida, em particular, de devedores e credores, porque nãocolocar a Alemanha na qualidade de devedor e a Grécia na qualidadede credor?
É
pena Portugal não ser a Grécia, sobretudo no que diz respeito ao
dinamismo da sua democracia. Por cá mantemo-nos resignados, com uma
aversão histórica à mudança, permissivos e desinteressados. Na
Grécia, num contexto de consolidação da democracia daquele país,
os cidadãos escolheram a mudança - é um facto. E fizeram essa
escolha, apesar de todas as chantagens e pressões, com
transparência, demonstrando que estão vivos e dispostos a recuperar
a dignidade. Não é possível dizer o mesmo de Portugal, agarrado a
elites políticas e empresariais promiscuas,
refém da resignação e da indiferença. Em suma, um país que tem
medo de se erguer. E ainda há quem diga, com acentuada satisfação,
que Portugal não é a Grécia.
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