É consensual que estamos muito longe
de estar bem; sabemos que está tudo, mas agimos como se estivesse
tudo bem; agimos como se tudo fosse suportável; sucumbimos à apatia
do está tudo bem.
De um modo geral, vivemos bem com os
atropelos à democracia e a todo o género de injustiça.
As dificuldades financeiras, o sufoco
causado pelos créditos só vieram agravar um estado generalizado de
apatia, de sofrimento escamoteado.
De resto, essa apatia apenas encontrou
o contexto ideal: uma educação que promove a passividade,
desprezando a diversidade própria da democracia; uma educação e
uma sociedade que promovem o individualismo, ignorando em absoluto o
motor da evolução da espécie humana: a cooperação. Por outro
lado, e ainda enquadrado no já referido contexto, verifica-se um
desânimo que assola sobretudo aqueles que não têm ocupação e que
sentem que não têm um lugar na sociedade – a vergonha de não
trabalhar, de não estudar, vergonha essa que redunda amiúde na mais
inexorável ausência de participação na vida colectiva.
“Colectivo”: palavra conspurcada por ideologias nefastas,
esquecida, ignorada, desprezada.
A televisão – peça central no
mencionado contexto – nas mãos de quem pugna pela passividade,
pela apatia; televisão nas mãos de quem teme que a falsa
normalidade seja colocada em causa; nas mãos dos defensores
indefetíveis do status quo. Com a televisão não há lugar ao
pensamento crítico; tem sido como alguns já referiram um “agente
pacificador” que alimenta o medo, sobretudo o medo do outro.
E finalmente, o contexto não seria
bem um contexto sem o consumismo excessivo. A publicidade nefasta,
defensora da uniformização e da manipulação – mentiras para
alimentar a apatia reinante, arauta do individualismo que invalida o
colectivo e sentimentos associados ao colectivo como o caso da
solidariedade e do bem comum.
No actual estado de apatia
generalizada que tomou conta das sociedades ocidentais verifica-se
que a mudança tarda de facto a chegar. Ainda assim e apesar do
contexto acima descrito, acredito que a mudança chegará. Um dia. No
dia em que a apatia do está tudo bem for obnubilada pelo peso da
realidade.
Comentários