Todos conhecemos o fenómeno, falamos dele e manifestamos timidamente a nossa repulsa por um sistema que se deixou apodrecer. Mas pouco se faz. A começar pelos próprios cidadãos que vão deixando que tudo se mantenha na mesma, apostando na alternância política (PSD umas vezes; PS, noutras), precisamente os partidos que mais dificuldades colocam no combate à corrupção. Não tenhamos dúvidas, a responsabilidade também é nossa.
Por outro lado, o aspecto cultural do problema: aceitamos a pequena corrupção, participamos amiúde na mesma e haverá também quem afirme e reafirme que em determinadas circunstâncias faria o mesmo. Pequena corrupção não deixa de ser corrupção. Ou seja não condenamos verdadeiramente a corrupção, criticamos um caso ou outro, mas vivemos relativamente bem com a mesma e quando nos apercebemos que os partidos do arco da governação nada fazem para mudar o actual estado de coisas, o que é que fazemos? Votamos neles.
E depois a Justiça, com a sua ineficácia, disfarçada por megaprocessos que originam coisa nenhuma. A consequência evidente chama-se impunidade reforçada na confiança da maioria nos partidos que promovem essa impunidade.
Neste contexto, torna-se manifestamente dificil ficar surpreendido com situações como aquelas proporcionadas pelos famigerados vistos dourados. Tudo, desde a sua génese, abre as portas à corrupção e a à opacidade. Consequências? A demissão de um ministro, por razões políticas e a permanência de um Governo que transformou o país numa coisa ainda mais pobre e mal cheirosa (peço perdão pela vulgaridade da expressão).
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