É consensual que as desigualdades
cresceram as últimas décadas, com especial relevo para os últimos
cinco anos. É a vitória do capitalismo de rédea solta que já não
conta com a oposição do comunismo.
O fosso entre os mais ricos e os mais
pobres aumentou de forma considerável nos Estados Unidos e na
Europa; as classes médias saem enfraquecidas; a concentração de
riqueza de uma escassa minoria remete-nos para outros tempos; a
coesão social torna-se difícil; as democracias, genericamente
associadas a pactos sociais, são abaladas por uma forma de
capitalismo que deixa a descoberto as desigualdades fruto de
constantes desvalorizações salariais que se agravaram nos últimos
anos e que têm vindo a ser escamoteadas pelo outrora facilitismo no
acesso ao crédito.
Pickett no seu famigerado livro “O
Capital no século XXI” releva a Escandinávia como excepção onde
os níveis de desigualdade são consideravelmente menores e alerta
para os perigos da concentração de capital, sobretudo de capital
herdado, mas chama também à atenção para os perigos do aumento
das desigualdades questionando-se sobre até quando os mais
desfavorecidos aceitarão esses níveis crescentes de desigualdade.
As sociedades mais justas são
escassas e amiúde relegadas para um plano da utopia. Haverá quem
seja acusado de perseguir utopias, vivendo desfasado da realidade.
Continuaremos a ouvir esta e outras afirmações por parte daqueles
que promovem, directa ou indirectamente as desigualdades. Por terras
lusas encheram-nos com a ladainha da inevitabilidade. Resultou?
Aparentemente sim.
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