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A inevitabilidade do empobrecimento

Os últimos anos têm sido marcados por um discurso recorrente e que se traduz invariavelmente no peso da inevitabilidade do empobrecimento. De um modo singelo diz-se que nos portámos mal e que por isso agora somos obrigados a empobrecer. É assim que se ataca criminosamente pensões, salários e Estado Social de um modo genérico.
De fora deste discurso insidioso e das subsequentes acções fica qualquer renegociação séria em matéria de PPP's, swaps e afins. E qual seria essa poupança? De fora ficam os escritórios com advogados, assessorias sem fim, software (o Estado só neste particular poderia poupar mais de 100 milhões de euros recorrendo a software gratuito). De fora do discurso fica o dinheiro do BPN; de fora ficam as isenções fiscais a grandes empresas e ao sector financeiro num contexto em que o sistema fiscal é severamente injusto.
Entretanto conhecessem-se histórias aterradoras sobre instituições como o Banco de Portugal – histórias repletas de mordomias obscenas numa espécie de centro de recompensas para que quem tem coadjuvado na tarefa de destruir o país ou para quem é o filho da pessoa certa.
De fora do discurso que sublinha a inevitabilidade do empobrecimento ficam ainda o dinheiro injectado na banca, a reestruturação de uma dívida impagável que para ser pagável pressupunha um crescimento de 12 por cento ao ano, uma dívida que este Governo não tenciona reestruturar nem tão -pouco reclamar aquilo a que tem direito como a Grécia fez o dinheiro que o BCE ganhou com o resgate. De fora ficam, naturalmente, os custos incomensuráveis dos juros.
Empobrece-se porque nos portámos mal; empobrece-se porque tem de ser; empobrece-se porque é esse o único caminho. Para os descontentes haverá sempre a saída do país.
Na verdade e dito isto, a questão mais pertinente que se coloca é a seguinte: até quando insistiremos na escolha de quem defende interesses que não são os interesses dos cidadãos? Até quando?

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