“O Estado português não vai
intervir no BES”: palavras de Passos Coelho que duraram umas meras
duas semanas. E por muito que Passos Coelho tivesse repetido a frase
ao longo das últimas semanas, nem por isso passou a ser verdade, bem
pelo contrário: o Estado vai intervir no BES e no imediato.
O BPN também fora anunciado como um
bom negócio, importa não esquecer. Agora é diferente, dizem-nos.
No caso do BES separa-se o banco bom – Banco Novo (não é piada é
mesmo esta a designação escolhida) do banco mau (que agregará os
ativos tóxicos). No fundo são os mesmo do costume a financiar mais
este exemplo de crime organizado: um fundo de resolução que
capitaliza o banco, com o Estado a entrar com 4,5 mil milhões de
euros, dinheiros que não são nossos (empréstimo temporário com
dinheiros da troika), a par de uma participação de outros bancos de
400 milhões (e as garantias?). Chega? Qual o valor real do buraco?
Não se sabe. Mais tarde vender-se-a o novo banco. Assim, diz o
ministério das Finanças, esta é uma solução que não pesa no
erário público. Nem podia ser de outra forma, ou melhor, nem se
podia dizer de outra forma, afinal de contas as legislativas
aproximam-se e o primeiro-ministro, curiosamente a banhos, voltou a
meter o pé na poça.
As consequências e a equação são
também conhecidas: mais juros, menos salários, pensões, maior
enfraquecimento do Estado Social, com uma agravante: a dimensão que
este caso poderá atingir é incomensuravelmente maior do que no caso
BPN.
Ora, todos nos recordamos do BPN e do
seu pretenso carácter de excepção. Com efeito, o BPN era um caso
de polícia, uma excepção. Enquanto não se perceber que o sector
financeiro tem uma forma de funcionamento que apresenta assinaláveis
similitudes com organizações criminosas e se agir em conformidade,
estes casos repetir-se-ão, empobrecendo os países. Foi com o sector
financeiro que começou a crise e será devido ao funcionamento
criminoso deste sector que a crise se intensificará porque quase
nada foi feito para alterar um sistema que – repito – apresenta
assinaláveis similitudes com qualquer organização criminosa. E
sabemos que partidos políticos recusam alterações a esse sistema.
Espera-se que nas próximas eleições todos se lembrem deste
particular.
Passos Coelho que tanto afirmou não
haver necessidade de intervir no BES, motivo de regozijo para os seus
acólitos, tem agora mais um sapo para engolir. Entretanto Passos
tudo fará para salvar o banco, alegando não onerar os
contribuintes. Passos Coelho salva o banco, o mesmo já não se pode
dizer da sua face.
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