Uma
imagem que certamente se enquadra na definição de abjecção: o
primeiro-ministro de visita à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,
repleto de preocupações sociais. A lógica parece ser simples:
depois de tantos sacrifícios fundamentais para a recuperação do
país, as preocupações sociais devem ser agora centrais. Esta é
uma lógica que se vai acentuar até 2015.
Pelo
caminho toda a outra lógica – a real, a onerosa – vai perdendo
força, ou pelo menos assim espera PSD e CDS. A outra lógica é a
mesma que fundamenta a utilização do termo “abjecção”: a
lógica dos baixos salários, do aprofundamento da precariedade
laboral, do enfraquecimento do Estado Social, de uma profunda
transformação da sociedade portuguesa marcada pelo aumento das
desigualdades, pelo reforço da existência de uma sociedade de
classes e pelo empobrecimento da maior parte dos cidadãos.
Por
conseguinte, as “preocupações sociais” agora demonstradas pelo
primeiro-ministro não passam de uma hipocrisia abjecta. Passos
Coelho, a coberto da troika, e coadjuvado pelo séquito do costume
empurrou para a pobreza dezenas de milhar de crianças, desinvestiu
fortemente no ensino, reduziu e eliminou prestações sociais e
adoptou medidas que se traduziram em falências e em desemprego. Esse
é o mesmo Passos Coelho que sorri para as crianças da Santa Casa da
Misericórdia, tudo perante o beneplácito de Santana Lopes; tudo bem
montado para as câmaras de televisão.
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