Avançar para o conteúdo principal

Derrotas

Os resultados das eleições europeias mostram claramente a derrota da Aliança Portugal que agrupou PSD e CDS e do Partido Socialista. Aparentemente falar-se de uma derrota do PS – partido vencedor das eleições europeias – soa a paradoxo. Porém, é de uma derrota que se trata, apesar da vitória. Dito por outras palavras, o PS sai derrotado, apesar dos discursos em sentido contrário, consequência de um resultado que fica muito aquém do que se esperaria do maior partido da oposição.
De um modo geral, o PS não encontra eco no descontentamento dos cidadãos. O PS não é alternativa aos olhos de muitos cidadãos e, no caso em apreço, o PS incorreu no mesmo erro que o PSD e CDS: tratou a Europa como um assunto irrelevante, preferindo alinhar na mesma retórica de politiquice que simplesmente não colhe junto da maioria dos cidadãos. De igual modo, percebe-se mais uma vez que a liderança de António José Seguro revela mais do que tudo uma tibieza assinalável.
PSD e CDS saem profundamente derrotados das eleições de ontem. Mais um sinal de descontentamento que será convenientemente ignorado quer pelos partidos em questão, quer pelo Presidente da República.
Da noite de ontem sai também derrotado o Bloco de Esquerda, incapaz de fazer passar a sua mensagem, afundado em saídas de monta, e outros factores como a também saída de parte do seu eleitorado do país e a abstenção dos que poderiam votar naquele partido. Paralelamente, o Bloco de Esquerda padece de um mal que não é seu exclusivo, mas que compromete seriamente as suas aspirações: a imagem e a visibilidade concedida pelos meios de comunicação social. Essa imagem e essa visibilidade são ainda essenciais, Marinho Pinto que o diga.
As eleições europeias representaram também uma derrota para a própria Europa: elevadas taxas de abstenção e escalada de euro cépticos eleitos. Ilações sobre estes resultados e consequências práticas dos que ainda detém o poder, embora enfraquecido, será coisa a que não assistiremos. A Europa continuará afastada dos seus cidadãos. Os resultados de ontem estão longe de ser suficientes para mudar seja o que for.

Finalmente, ontem a democracia saiu também ela ainda mais enfraquecida. A maior parte dos cidadãos europeus não participa na construção da Europa. Mais uma vez, não haverá lugar a ilações ou consequências práticas.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Direitos e referendo

CDS e Chega defendem a realização de um referendo para decidir a eutanásia, numa manobra táctica, estes partidos procuram, através da consulta directa, aquilo que, por constar nos programas de quase todos os partidos, acabará por ser uma realidade. O referendo a direitos, sobretudo quando existe uma maioria de partidos a defender uma determinada medida, só faz sentido se for olhada sob o prisma da táctica do desespero. Não admira pois que a própria Igreja, muito presa ao seu ideário medieval, seja ela própria apologista da ideia de um referendo. É que desta feita, e através de uma gestão eficaz do medo e da desinformação, pode ser que se chumbe aquilo que está na calha de vir a ser uma realidade. Para além das diferenças entre os vários partidos, a verdade é que parece existir terreno comum entre PS, BE, PSD (com dúvidas) PAN,IL e Joacine Katar Moreira sobre legislar sobre esta matéria. A ideia do referendo serve apenas a estratégia daqueles que, em minoria, apercebendo-se da su...