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Sinais inquietantes

Quando o Governo pensava que conseguia aprovar o Orçamento de Estado para 2014 sem particular alvoroço, baseando tal julgamento na relativa passividade da sociedade portuguesa, várias forças políciais e de investigação dão sinais de descontentamento sem precedentes.
As imagens de ontem à frente  da Assembleia da República são sintomáticas de um mal-estar que é transversal a uma boa parte dos portugueses. As polícias não são excepção e nessa matéria, de um ponto de vista estritamente pragmático, o Governo não foi competente, geriu mal as expectativas daquelas forças, esquecendo-se que do lado dos governos, sobretudo de governos tão mal-amados, é conveniente manter as hostes militares e policias satisfeitas.
Num outro lado da cidade de Lisboa, na Aula Magna, Mário Soares junta um importante conjunto de personalidades da política, unidos em torno do descontentamento perante políticas que estão a destruir o país. A sintonia entre o que se passava na Aula Magna e o que estava a acontecer nas escadarias da Assembleia da República é assinalável. De um lado, o ímpeto das palavras; do outro, a força da acção.
São sinais inquietantes. Um Governo que insiste numa pretensa legitimidade conferida pelo voto eleitoral não lhe resta mais do que se agarrar ao poder como se quem agarra à vida, mesmo que para tal se veja forçado a ignorar os sinais de um profundo mal-estar que se instalou na sociedade portuguesa. Tempos excepcionais, dizem-nos. Talvez nesse aspecto tenham razão, só em tempos excepcionais é que um Governo sem qualquer legitimidade para além daquela conferida pelo voto (ainda assim manifestamente insuficiente) é que se pode manter em funções, sob a alçada de um Presidente da República que deve ter voltado àquela espécie de estado de hibernação que lhe é tão característico.

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