Avançar para o conteúdo principal

As analogias de Moedas

Carlos Moedas, secretário de Estado-adjunto, tem-se mostrado exímio na elaboração de analogias. Ontem, Moedas afirmou que nenhum Governo "impõe austeridade por imperativo ideológico". Carlos Moedas não é só exímio no que toca à elaboração de analogias, mas é também pródigo na criatividade semântica.
Ora, o Governo a que pertence tem uma ideologia e serve-se precisamente da austeridade (resultado de uma crise cuja origem já todos esqueceram) para impor uma transformação na sociedade que de outra forma não seria possível. Só assim se explica a aceitação de cortes no Estado Social e a subsequente abertura de novas oportunidades de negócio aos privados; só assim se explica a aceitação de uma desvalorização salarial; só assim se aceita o retrocesso social de tantos em benefício de alguns.
Moedas, parcimonioso em matéria de honestidade intelectual, mas generoso no que diz respeito a analogias de trazer por casa, comparou ainda o país a um automóvel que tinha o travão de mão activado, acelerando e gastando combustível. Agora, diz Moedas, o mesmo automóvel já desactivou o travão de mão e está em andamento - com isto Moedas pretende demonstrar que o país está em recuperação. Até posso concordar com a pretensa circulação do automóvel, mas não posso deixar de referir que o mesmo embateu contra um qualquer muro e por aí permanece nos últimos dois anos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...