Pedro Passos
Coelho tem razão quando diz não ter amigos, em resposta a afirmações da
bancada do PCP precisamente em sentido contrário, dando conta de uma
pretensa amizade entre o primeiro-ministro e o sector financeiro
juntamente com as empresas de maior dimensão, essencialmente
monopolistas.
Passos Coelho tem razão. Não tem amigos, não tem
relações de amizade com os protagonistas desses sectores. A relação de
Passos Coelho e do seu governo não é de amizade. São interesses, é a
defesa desses interesses, é o pragmatismo de relações cujos alicerces
são precisamente os interesses que degeneram na mais abjecta promiscuidade. Nada mais.
A amizade não
existe. Não há compreensão mútua, não existe um sentimento de pertença,
não existe espaço para a dor da ausência, nem tão-pouco para a alegria
de um abraço há muito desejado. De resto, não há qualquer desafio ao
tempo: a amizade é para sempre; estas relações duram enquanto durar a
necessidade.
Pedro Passos Coelho afirma não ter amigos.
Acredito que não tenha de facto amigos, não os terá certamente no contexto referido
pela oposição. Quanto ao resto, quem é despido de humanidade
dificilmente consegue consolidar relações de verdadeira amizade. Talvez
seja o seu caso.
Pelo sim pelo não e caso Passos Coelho ainda
se sinta na dúvida quanto a hipotéticas relações de amizade, deixo aqui
um poema de Vinicius de Morais para ajudá-lo ao esclarecimento de
eventuais dúvidas, apesar da veemência das suas afirmações no
Parlamento.
Soneto do amigo
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
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