O neoliberalismo que atinge o seu auge, paradoxalmente
depois da crise de 2008, conhecendo uma renovada força desde os áureos
tempos de Tatcher e de Reagan, tem vindo a enfraquecer a democracia.
A democracia coloca entraves à disseminação da ideologia que
também por cá se instalou. Veja-se a forma como este Governo lida com o
Tribunal Constitucional e com as suas deliberações. Veja-se a forma como
o próprio Presidente da República lida com a Constituição. Trata-se apenas de um exemplo.
Em Portugal, à semelhança do que acontece com outros países, as
democracias são indissociáveis de pactos sociais que estão a ser
genericamente desrespeitados. Quem governa, representa interesses
alheios ou contrários ao interesse comum, deixando o povo de ser
soberano, para no seu lugar, as grandes empresas e a alta finança,
através de representantes, tomarem as decisões. Esvazia-se o conceito de
democracia.
Hoje o perigo da democracia ser substituída por regimes déspotas,
xenófobos, fascistas é uma realidade. Curiosamente será através de
mecanismos democráticos que esses regimes contrários à própria
democracia conseguirão chegar ao poder. Atente-se ao caso francês.
As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...
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