Avançar para o conteúdo principal

Respeito pela liberdade de expressão e por outras liberdades

Desde logo importa sublinhar a importância que a liberdade de expressão tem na democracia, tanto mais que se trata de um dos seus pilares. Ontem essa liberdade de expressão não terá sido respeitada no momento em que o ministro Miguel Relvas ia discursar numa conferência da TVI. Naquele momento - não esquecer que o ministro em questão pode fazer uso da sua liberdade de expressão quando entende, tendo ao seu dispor instrumentos para o uso dessa mesma liberdade que não estão ao alcance do comum dos cidadãos. Ironicamente Miguel Relvas ia encerrar a conferência sobre o futuro do Jornalismo - Miguel Relvas a falar de "futuro" seja lá do que for é uma experiência, no mínimo, surreal. Este é um lado da discussão sobre o que se passou ontem.
Todavia, há outros aspectos que não devem ser arredados desta discussão: os atropelos à Constituição (que no ano passado se auto-suspendeu); o desprezo gratuito pelos direitos dos cidadãos, de quem trabalha, de quem é pensionista, de quem caiu numa situação sem retorno, o desemprego.
Com efeito quando se critica veementemente o desrespeito manifestado ontem pela liberdade de expressão, não se deve ignorar o que está subjacente a esse mesmo desrespeito; não se deve ignorar que um povo a quem é subtraída qualquer ideia de futuro pode adoptar comportamentos menos consonantes com os ditos pilares da democracia. Infelizmente, estas situações não são novas, talvez o seja, pelo menos nos últimos anos, em Portugal.
O Governo manifesta um desprezo inexcedível pelos cidadãos, alguns cidadãos respondem na mesma moeda. O Governo mostra ter uma apetência singular para salvaguardar interesses que vão em sentido contrário aos interesses dos cidadãos. Os cidadãos mostram-se revoltados. Miguel Relvas insiste em cair no rídiculo. O resultado foi o que se viu. A legitimidade democrática resultado de um acto eleitoral não é sinónima da total aceitação de tudo e mais alguma coisa. A forma de protesto de ontem é, indubitavelmente, discutível e passível de ser criticada. Porém, reitero a importância do que subjaz a essa mesma forma de protesto.
A liberdade de expressão de Miguel Relvas foi naquele momento desrespeitada. É um facto. Porém, não se deixe que qualquer discussão sobre o que se passou ontem no ISCTE se fique por esse facto.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Direitos e referendo

CDS e Chega defendem a realização de um referendo para decidir a eutanásia, numa manobra táctica, estes partidos procuram, através da consulta directa, aquilo que, por constar nos programas de quase todos os partidos, acabará por ser uma realidade. O referendo a direitos, sobretudo quando existe uma maioria de partidos a defender uma determinada medida, só faz sentido se for olhada sob o prisma da táctica do desespero. Não admira pois que a própria Igreja, muito presa ao seu ideário medieval, seja ela própria apologista da ideia de um referendo. É que desta feita, e através de uma gestão eficaz do medo e da desinformação, pode ser que se chumbe aquilo que está na calha de vir a ser uma realidade. Para além das diferenças entre os vários partidos, a verdade é que parece existir terreno comum entre PS, BE, PSD (com dúvidas) PAN,IL e Joacine Katar Moreira sobre legislar sobre esta matéria. A ideia do referendo serve apenas a estratégia daqueles que, em minoria, apercebendo-se da su...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...