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As greves e o atraso do país

Segundo Nuno Melo, Vice-Presidente do CDS, as greves são "trágicas" e constituem "factores que mais incertezas trazem". Embora as afirmações tenham sido proferidas há algumas semanas, a sua actualidade mantém-se.
É curioso este proeminente membro de um dos partidos da coligação falar em incerteza quando a receita que subscreve redunda num gritante clima de incerteza. Senão vejamos: a carga fiscal, os aumentos, o carácter intrincado e a sucessão de alterações à legislação fiscal constituem "factores que mais incertezas trazem"? E o que dizer da promiscuidade - tão cara a este Governo - entre poder político e poder económico, designadamente entre governos e empresas do regime? Já não falar da corrupção que anda invariavelmente de mãos dadas com essa mesma promiscuidade. Serão estes "factores que mais incertezas trazem"? Que investidores é que considerarão apostar neste país?
Aparentemente, e do ponto de vista de Nuno Melo", a tragédia é a greve. É claro que para Nuno Melo a legitimidade dos trabalhadores e os seus direitos são questões de somenos. Afinal de contas, por aqui tudo se atropela em nome de um estado de excepção, de emergência, ou do que lhe queiram chamar.
A greve é um direito, o que não pressupõe que não haja lugar a críticas que também fazem parte do Estado democrático. Porém, antes de Nuno Melo criticar a greve associando-a ao atraso do país, recomenda-se que o reputado dirigente do CDS olhe para o que o seu partido anda a fazer no Governo.

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