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O fosso

Existe um fosso cujas dimensão aumenta de dia para dia. O aumento desse fosso contribuiu decisivamente para o enfraquecimento da democracia. Trata-se do fosso entre cidadãos e classe política. A descrença que os cidadãos sentem relativamente aos políticos generaliza-se e agrava-se com episódios como aquele que assistimos ontem no Parlamento.
O primeiro-ministro, em reposta aos deputados da oposição, ao invés de fazer a defesa das suas políticas limitou-se a intercalar as velhinhas acusações que recaem sobre o Governo anterior com risos que só podem exasperar qualquer cidadão.
Não houve momentos de seriedade que os assuntos determinam, apenas sobranceria e risos sarcásticos.
Ora, estes episódios são decisivos para o aumento do fosso entre quem elege e quem assume o papel de representante político. Paralelamente às dificuldades que muitos cidadãos atravessam, para além da perda notória de soberania, junta-se agora estas tristes figuras feitas por quem tem responsabilidades governativas.
O pior de tudo é que apesar do fosso, muitos continuam a acreditar que as soluções para o país venham dos partidos que há mais de trinta anos estão no poder. Não há vontade de mudança, apenas a ideia feita de que se deve tentar escolher entre o menos mau. Paradoxalmente, a dimensão do tal fosso aumenta.

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