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A pobreza

"Pobres já estamos". A constatação é do primeiro-ministro de Portugal, numa entrevista dada ao semanário Sol. A afirmação não causa espanto, afinal de contas, Pedro Passos Coelho já tinha referido a necessidade do país empobrecer. Agora fala daqueles que viveram acima das suas possibilidades, recorrendo para tal ao crédito.
É curioso verificar que no tempo do crédito fácil e acessível, cidadãos e empresas eram impelidos a contrair esses créditos. Veja-se o crédito à habitação e a promoção do mesmo. Agora, procura-se culpabilizar quem cedeu a essas pressões - porque é mesmo disso que se trata - e sublinhar reiteradamente que muitos vivem ou viveram acima das suas possibilidades. Quando a banca arrecadou fortunas, estava tudo bem. Poucos foram aqueles que alertaram para o problema.
Em relação ao Estado, também se diz que este vive acima das suas possibilidades. Seguramente que vive. Vive acima das suas possibilidades porque fez contratos ruinosos, porque banalizou as parcerias público-privadas, porque pediu pareceres milionários, porque deixou que a construção desenfreada fosse o seu motor de crescimento, porque permitiu que a corrupção grassasse no seu seio.
Agora, o empobrecimento é o caminho. Empobrecimento do Estado que resulta na fragilização do Estado Social; empobrecimento dos cidadãos, atolados em créditos (em particular crédito à habitação) que outrora eram promovidos até à náusea, os mesmos que têm de fazer face ao maior retrocesso social das últimas décadas.

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