Avançar para o conteúdo principal

A pieguice

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, apelou aos Portugueses para serem menos piegas e para serem mais trabalhadores e mais exigentes. O discurso não é propriamente novo, mas o apelo ao fim da pieguice traz alguma novidade. Passos Coelho acredita que é desta forma que podemos restaurar a credibilidade do país, sem a qual a economia portuguesa não recuperará.
Ora, não deixa de ser interessante ouvir o chefe de Governo apelar ao fim da pieguice. E mais interessante seria perceber de que pieguice é que ele se está a referir. A pieguice dos desempregados, dos cidadãos que passam por dificuldades até para comer, a pieguice de quem vive todos os dias o tormento de perder o emprego e a forma de subsistência? Será essa a pieguice a que Passos Coelho se refere?
Estará o primeiro-ministro a confundir pieguice com a natural manifestação de descontentamento de quem vê o seu país empobrecer a cada dia que passa, mesmo sabendo que o empobrecimento é um objectivo do primeiro-ministro?
Pedro Passos Coelho, com maiores ou menores manifestações de pieguice, mantém-se irredutível no caminho que traçou para o país e que se resume a duas ideias. A primeira passa pelo empobrecimento, com o enfraquecimento e paulatino desaparecimento do Estado Social e com a tibieza das relações de trabalho e a segunda ideia que se consubstancia em objectivo é a venda de sectores estratégicos do país. Mesmo que não fosse essa a vontade divina da troika, este Governo continuaria empenhado em vender esses mesmos sectores - não se tenha qualquer dúvida.
Se o Governo conseguir atingir estes objectivos, terá cumprido a sua missão.
Peço desculpa pela pieguice deste meu pequeno texto.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...