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A pieguice

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, apelou aos Portugueses para serem menos piegas e para serem mais trabalhadores e mais exigentes. O discurso não é propriamente novo, mas o apelo ao fim da pieguice traz alguma novidade. Passos Coelho acredita que é desta forma que podemos restaurar a credibilidade do país, sem a qual a economia portuguesa não recuperará.
Ora, não deixa de ser interessante ouvir o chefe de Governo apelar ao fim da pieguice. E mais interessante seria perceber de que pieguice é que ele se está a referir. A pieguice dos desempregados, dos cidadãos que passam por dificuldades até para comer, a pieguice de quem vive todos os dias o tormento de perder o emprego e a forma de subsistência? Será essa a pieguice a que Passos Coelho se refere?
Estará o primeiro-ministro a confundir pieguice com a natural manifestação de descontentamento de quem vê o seu país empobrecer a cada dia que passa, mesmo sabendo que o empobrecimento é um objectivo do primeiro-ministro?
Pedro Passos Coelho, com maiores ou menores manifestações de pieguice, mantém-se irredutível no caminho que traçou para o país e que se resume a duas ideias. A primeira passa pelo empobrecimento, com o enfraquecimento e paulatino desaparecimento do Estado Social e com a tibieza das relações de trabalho e a segunda ideia que se consubstancia em objectivo é a venda de sectores estratégicos do país. Mesmo que não fosse essa a vontade divina da troika, este Governo continuaria empenhado em vender esses mesmos sectores - não se tenha qualquer dúvida.
Se o Governo conseguir atingir estes objectivos, terá cumprido a sua missão.
Peço desculpa pela pieguice deste meu pequeno texto.

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