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Ontem caiu o Carmo e a Trindade

As declarações efusivas mas informais de Pedro Nuno Santos, deputado do PS, num jantar do partido provocaram reacções igualmente efusivas. O deputado do PS estar-se "marimbando para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal", referiu que Portugal "tem a bomba atómica" e "ou os senhores se põem finos ou não pagamos".
As reacções ao discurso de Pedro Nuno Santos fizeram cair o Carmo e a Trindade. Como é que alguém com a responsabilidade do deputado pode proferir frases daquela natureza, dizia-se ontem. O deputado talvez não tenha escolhido os melhores termos para fazer valer o seu ponto de vista, mas tem direito à sua opinião mesmo que esta seja em sentido contrário da direcção do seu partido e contrária ao que por aí se diz.
Percebeu-se ontem que a mera sugestão de incumprimento provoca grande celeuma num país, apesar de tudo, ainda habituado ao pensamento único geralmente o discurso dos principais partidos políticos, da comunicação social, e dos especialistas do costume.
Importa referir que é o próprio FMI a desdramatizar o incumprimento, realçando que as consequências para um país que entre em incumprimento são limitadas. Em 2008 os técnicos do FMI afirmaram que as consequências negativas de um incumprimento não se estendem durante muito tempo (In Diário de Notícias, 16/12/2011). "A reputação de devedores soberanos que entram em default fica afectada, mas apenas por pouco tempo", adianta ainda a instituição. 148 países, entre 1824 e 2004 entraram em incumprimento.
Quem ontem se prestasse a ver o Jornal da Noite da SIC pensaria que a sugestão de Pedro Nuno Santos seria uma espécie de Apocalipse. A SIC pegou no caso argentino para demonstrar os efeitos trágicos de um default, esqueceu-se, no entanto, de dizer qual o crescimento deste país nos últimos anos, em particular este ano que finda.
Independentemente das discussões e da visão apocalíptica dos mesmos senhores que não viram a crise de 2008 e que continuam a pugnar pelas mesmas receitas que deram origem a essa crise, a ideia de se negociar com os credores, em particular de forma concertada com outros países em situação difícil, é benéfica e talvez uma das poucas soluções para o imbróglio em que se encontram tantos países europeus.

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