Avançar para o conteúdo principal

Europa sem soluções

A cimeira do tudo ou nada parece dar mais do mesmo, ou seja nada. Depois da discordância de alguns Estados-membros dos 27, com o primeiro-ministro Inglês à cabeça, em relação a alterações ao Tratado de Lisboa, a Europa mostra reiteradamente a suas divisões e a incapacidade de encontrar soluções. Pretende-se agora adoptar uma solução no seio dos 17 Estados que compõe a Zona Euro.
As alterações sugeridas pela Alemanha pressupõem mudanças nas constituições dos países. Ora, essas sugestões têm implicações sérias na soberania de cada Estado e, por conseguinte, não devem ser decididas à revelia dos cidadãos. Dir-se-á que a perda de soberania faz parte do caminho do aprofundamento da integração europeia. Todavia, esse aprofundamento será apenas de natureza económico-financeira, deixando de lado a união política. A Europa continuará dividida e coxa, sem a união política. A ideia do federalismo em oposição à natureza intergovernamental da Europa e uma utopia.
Paralelamente, as soluções apontadas para que a Europa saia da crise deixam muito a desejar. Pretende-se que a ortodoxia económica se sobreponha a tudo o resto. Os perigos no horizonte são evidentes. A Alemanha quer uma solução rígida, uma espécie de crime e castigo, em que os países prevaricadores sejam punidos de imediato. Para tal, altera-se a constituição dos países pertencentes à Zona Euro que passarão a viver sob o total jugo da Alemanha. Pelo caminho, nem os cidadãos são ouvidos, nem a democracia, consequentemente, é salvaguardada.
O resultado, ainda assim, ficará aquém do necessário. Caminha-se a passos largos para o desmoronamento de um projecto que, com outras políticas, poderia ser exequível.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...