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Greve geral II

Os transtornos criados num dia sobrepõem-se ao peso das políticas de austeridade que confundidas com uma pretensa inevitabilidade mais não são do que um contributo para o retrocesso social e para a ruína do país. Se há uma dívida para pagar - embora nenhum de nós conheça os seus contornos -, se o país está em dificuldades, temos é de arregaçar as mangas e não fazer greve. De um modo geral é isto que nos dizem.
Somos constantemente invadidos - e para tal devemos agradecer o forte contributo da comunicação social - por uma avalanche de opiniões que culmina invariavelmente com a mesma conclusão. De nada adianta os cidadãos manifestarem o seu descontentamento porque agora é a altura de arregaçar as mangas e trabalhar. Além do mais temos a tal dívida para pagar - que os cidadãos não conhecem. Afinal de contas andámos todos a vivermos como ricos, a gastarmos mais do que devíamos. Agora é o tempo da redenção e não de manifestação. O peso da pretensa inevitabilidade, a culpabilização de todos e os discursos de sentido único têm produzido resultados interessantes para quem governa.
Não admira pois que tantos se mostrem contra greves e até manifestações de diferente natureza. Hoje é dia de dizer "vai mas é trabalhar", enquanto passamos todos os outros dias a não fazer as perguntas certas, seja em relação a dívida, seja em relação à proficuidade das medidas de austeridade, seja em relação à agenda do governo centrada na desvalorização do trabalho e no enfraquecimento do Estado Social.
E nem vale a pena falar na fragilidade crescente da democracia. Este é assunto que parece ter pouco interesse.
O que interessa é gritar chavões como "vai mas é trabalhar" ou argumentar que a greve não adianta de nada e que o país precisa é de trabalho. Continuamos a não ver ou a não querer ver o essencial. Ou porventura só conseguimos ver aquilo que todos os dias nos dizem para ver.

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