Avançar para o conteúdo principal

Europa dividida

Se os sinais de divisão no seio da UE, nomeadamente na Zona Euro, eram profusos, o que dizer agora da ideia francesa e alemã da criação de um grupo da moeda única apenas para alguns países? Essa discussão pressupõe o afastamento de alguns países da Zona Euro, Portugal dificilmente será excepção.
Já por aqui se referiu a possibilidade de Portugal não conseguir se manter na moeda única. O assunto é tabu, embora fosse mais profícuo encarar essa possibilidade e estudá-la de modo mais aprofundado.
De resto, países como a Alemanha, França e Holanda dificilmente verão quaisquer vantagens em manter outros países como a Grécia e Portugal na moeda única. Afinal de contas, esses países já fizeram negócios vantajosos para as suas economias, seja em matéria de exportações, seja no que diz respeito ao financiamento. Em bom rigor, países como Portugal e a Grécia são fontes que secaram, deixando de ter vantagens para as maiores economias da Zona Euro. As lideranças europeias continuam a olhar para os problemas da Zona Euro como sendo o resultado apenas da pretensa irresponsabilidade de alguns países em matéria de endividamento. Não se reconhecem os problemas com a arquitectura da moeda única porque isso pressupõe mudanças profundas, muito em particular no âmbito do federalismo, que essas lideranças não estão dispostas a aceitar. A Europa, para estas lideranças, continuará a ter uma natureza intergovernamental. Não me parece que esses países estivessem dispostos a aceitar uma natureza verdadeiramente federalista.
Já se sabia da existência de uma Europa a duas velocidades - uma das razões para o falhanço da própria moeda única -, o que agora é mais notório é que as maiores economias da Zona Euro pretendem perpetuar essas dicotomias, constituindo um grupo económico-monetário de países mais ricos em contraste com os outros. Qual será o próximo passo? A saída da própria UE de alguns países? Este é mais um sinal da completa destruição do projecto europeu. Essa destruição tem nomes e tem rostos, conhecidos de todos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...