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Os indignados

Não, não se trata do conjunto de cidadãos que, em Espanha, mostram a sua indignação. São, nem mais nem menos, Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva, Ricardo Salgado, Mira Amaral, entre outros. São as mesmas pessoas que entre o silêncio e o apoio mais ou menos evidente de políticas neoliberais, têm dado o seu aval a um modelo económico assente em mecanismos e entidades como as agências de rating.
Os novos indignados mostram a sua revolta contra um sistema que sempre apoiaram. A diferença é que os excessos do sistema que tanto apregoam entraram pelas suas casas adentro.
A descida do rating da república portuguesa mostra aquilo que é evidente para todos: nem toda a austeridade do mundo vai acalmar os mercados que depois de quase destruírem o mundo, atacam sem misericórdia os países. É caso para perguntar a estes senhores arautos do capitalismo financeiro desregulado e selvagem se ainda acreditam que os mercados são eficientes e se não aprenderam nada com os anos de 2007 e 2008.
O país também está como está porque se insiste em olhar exclusivamente para os nossos umbigos. E como este episódio das agências de notação financeira bem demonstra, só mostramos a nossa indignação quando somos directamente afectados e prejudicados.
Alguns dos indignados fazem a capa do jornal "i" com penicos, perdão, com capacetes na cabeça. Não deixa de ser paradoxal que quem tem levado com toda a trampa sejam os cidadãos. A julgar pela expressão no rosto da Sra. Merkel esta parece ser a primeira a dar conta dessa mesma trampa.

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