A cimeira de ontem é considerada um sucesso, não obstante a fuga a palavras como "incumprimento" e "reestruturação". Ora, os juros do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) caem para 3,5 por cento e o prazo de pagamento é dilatado de sete anos e meio para quinze anos, no mínimo. O sector privado acabará, muito provavelmente, por aceitar renovar a dívida grega, com perdas de 20 por cento. Ainda se trata de uma proposta, mas se se consubstanciar numa medida concreta, trata-se de um "incumprimento" - um anátema até anteontem.
É curioso que houve quem chamasse à atenção para a necessidade de se renegociar a taxa de juro e os prazos. Quem o fez foi descredibilizado, quem sempre rejeitou essa hipótese foi recompensado - veja-se os resultados eleitorais.
Outras medidas que estarão em cima da mesa passa por linhas de crédito à Itália e a Espanha; a possibilidade do FEEF comprar dívida no mercado secundário.
Todavia, o essencial fica por fazer. O Euro não funciona por muito que se finja que funciona. Sem um orçamento digno desse nome, com um Banco Central obcecado com a inflação e sem instrumentos, designadamente sem a possibilidade de emprestar directamente aos países da Zona Euro, sem uma uniformização fiscal e com a excitação em torno da austeridade, uma Europa subjugada ao eixo Franco-Alemão, a Europa continuará a trilhar o caminho do seu enfraquecimento.
Estas medidas poderão aliviar a pressão, mas o problema de fundo mantém-se e é grave para países como Portugal; países que não registaram crescimentos significativos na última década, países agora a braços com um plano de austeridade e com um Governo que não se coíbe de afirmar que quer ir mais longe do que esse plano de austeridade. Não é seguramente colocando os cidadãos num espartilho fiscal - mais para os mesmos do costume -; aumentando o preço dos transportes em média em 15 por cento (uma verdadeira afronta que merece uma resposta à altura) ou aumentando os bens essenciais ao mesmo tempo que se reduz os salários que o país vai retomar o crescimento.
Há uma frase que importa não esquecer: "Queremos ir mais longe do que a Troika". O resultado não pode ser outro que não passe por menos crescimento económico, mais desemprego e mais miséria.
Por conseguinte, as medidas ontem anunciadas, repletas de demagogia na medida em que constituem uma reestruturação e até um incumprimento são meros remendos para um problema muito grave. Hoje a Europa e um Portugal encolhido podem respirar de alívio, mas a ver vamos se tanta austeridade não acabará mesmo por matar a Europa. Enquanto os cidadãos permanecerem encolhidos, a austeridade vai continuar a matar-nos paulatinamente. Talvez a convulsão social que se vive na Grécia e o perigo da mesma convulsão social se tornar endémica tenha levado alguns líderes europeus a rever as suas posições, mas não o estão a fazer de forma significativa. Para Angela Merkel, as palavras de Helmut Kohl devem ter pesado.
É curioso que houve quem chamasse à atenção para a necessidade de se renegociar a taxa de juro e os prazos. Quem o fez foi descredibilizado, quem sempre rejeitou essa hipótese foi recompensado - veja-se os resultados eleitorais.
Outras medidas que estarão em cima da mesa passa por linhas de crédito à Itália e a Espanha; a possibilidade do FEEF comprar dívida no mercado secundário.
Todavia, o essencial fica por fazer. O Euro não funciona por muito que se finja que funciona. Sem um orçamento digno desse nome, com um Banco Central obcecado com a inflação e sem instrumentos, designadamente sem a possibilidade de emprestar directamente aos países da Zona Euro, sem uma uniformização fiscal e com a excitação em torno da austeridade, uma Europa subjugada ao eixo Franco-Alemão, a Europa continuará a trilhar o caminho do seu enfraquecimento.
Estas medidas poderão aliviar a pressão, mas o problema de fundo mantém-se e é grave para países como Portugal; países que não registaram crescimentos significativos na última década, países agora a braços com um plano de austeridade e com um Governo que não se coíbe de afirmar que quer ir mais longe do que esse plano de austeridade. Não é seguramente colocando os cidadãos num espartilho fiscal - mais para os mesmos do costume -; aumentando o preço dos transportes em média em 15 por cento (uma verdadeira afronta que merece uma resposta à altura) ou aumentando os bens essenciais ao mesmo tempo que se reduz os salários que o país vai retomar o crescimento.
Há uma frase que importa não esquecer: "Queremos ir mais longe do que a Troika". O resultado não pode ser outro que não passe por menos crescimento económico, mais desemprego e mais miséria.
Por conseguinte, as medidas ontem anunciadas, repletas de demagogia na medida em que constituem uma reestruturação e até um incumprimento são meros remendos para um problema muito grave. Hoje a Europa e um Portugal encolhido podem respirar de alívio, mas a ver vamos se tanta austeridade não acabará mesmo por matar a Europa. Enquanto os cidadãos permanecerem encolhidos, a austeridade vai continuar a matar-nos paulatinamente. Talvez a convulsão social que se vive na Grécia e o perigo da mesma convulsão social se tornar endémica tenha levado alguns líderes europeus a rever as suas posições, mas não o estão a fazer de forma significativa. Para Angela Merkel, as palavras de Helmut Kohl devem ter pesado.
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