Avançar para o conteúdo principal

Ainda a Grécia

O chumbo de novas medidas de austeridade por parte dos principais partidos da oposição grega, que poderá inviabilizar a chegada da última tranche do empréstimo acordado com a UE e o FMI, deixa a Grécia e a própria Zona Euro numa posição periclitante. As medidas de austeridade iriam traduzir-se por mais cortes nos salários e pensões, para além de um vasto programa de privatizações.
A Europa considerou que a melhor forma de combater o ataque dos mercados aos países periféricos que muitos apelidam de crise das dívidas soberanas através de austeridade e redução radical dos défices e do endividamento. A realidade mostra que essas medidas draconianas não são a solução. Além disso, a inexistência de mecanismos de contenção deste tipo de problemas no seio da Zona Euro e a mais abjecta liderança europeia deixam os países da Zona Euro vulneráveis a ataques que agravam a situação já difícil do seu endividamento.
A Grécia, um pilar da identidade europeia está agora sujeita a um misto de humilhações e aniquilamento do bem-estar social dos seus cidadãos. Infelizmente, os países que dominam a Zona Euro e a própria Europa, designadamente a Alemanha que tanto beneficiou com o endividamento e desindustrialização dos países periféricos mostrou desde a primeira hora um egoísmo que lhe será igualmente prejudicial.
Os problemas da Grécia são os problemas de todos os países Europeus, designadamente aqueles que pertencem à cada vez mais malograda Zona Euro. Portugal, muito em particular, deve olhar com grande atenção para o que se está a passar na Grécia. Aqui, neste nosso país surreal, e em plena campanha eleitoral todos se comportam como se tivessem grande margem para governar, quando na verdade o programa foi imposto por fora e chama-se Memorando de Entendimento - um belo exemplo da ideologia liberal dominante e persistente. Todos, ou quase todos, se comportam como se fosse possível ultrapassar esta crise com juros, dívidas e recessão. Agora pedem responsabilidade ao eleitorado - é preciso um governo sólido, uma boa equipa para cumprir o programa da Troika. As ilusões continuam e muitos cidadãos assinam por baixo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...