Avançar para o conteúdo principal

Um país surreal

O país da política é, muito em particular no nosso país, surreal e totalmente desfasado do país real. Se dúvidas existiam, o congresso do PS dissipou-as. Os elogios ao líder, a quase total ausência de críticas à liderança e a inexistência de qualquer olhar para dentro do partido do Governo, assumindo responsabilidades pelo estado deplorável do país são sintomáticas de partidos apenas vocacionados e interessados em chegar ao poder, desprezando os interesses dos cidadãos.
Do outro lado, o PSD embrulha-se com um ex-candidato presidencial que se mostrava independente dos partidos políticos e assim afirmava querer continuar. Afinal de contas, aceita um convite de um partido de matriz liberal, contrariando muitas das ideias defendidas ao longos dos últimos tempos. O PSD quer votos, o Dr. Fernando Nobre ainda não se percebeu muito bem o que quer. O PSD advoga políticas que põe em causa conquistas sociais (expressão que rapidamente se tornará num anátema), políticas que não são consonantes com o Estado Social, isto num país que não tem muito mais para oferecer aos seus cidadãos do que o que resta do Estado Social. Não se refere a importância de discutir as funções do Estado, acabar com os seus excessos, o que implica acabar com boys que também proliferam no PSD, pôr um fim na partidocracia que domina o país nas últimas décadas, na promiscuidade entre poder político e poder económico e financeiro, questões que têm custado muito ao país e que têm contribuído para a consolidação de uma elite que domina os negócios mais importantes.
Os restantes partidos, embora certeiros em muitos diagnósticos que fazem, estão condicionados ou por ideologias elas próprias surreais ou por se tratarem de meros apêndices dos grandes partidos.
De resto, o maior drama é que no país real a sociedade civil é anódina e a política é um assunto maçudo ou o princípio da viagem para um tacho qualquer. O país continua refém de si próprio, incapaz de encontrar em si próprio caminhos alternativos a estes que têm comprovadamente falhado, incapaz de ter interesse, coragem, dinâmica para dizer não a quem nos anda a tramar nas últimas três décadas. Entretanto, vamos ouvindo os queixumes habituais, somos confrontados com o desinteresse de uma sociedade encerrada sobre si própria, isto enquanto outros fogem da realidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...