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Ainda o Egipto

Hoje é o "dia da partida", dia escolhido pela oposição egípcia para Hosni Mubarak, o Presidente do Egipto, abandonar o cargo. Depois de semanas de tensão e dos últimos dias de violência nas principais cidades egípcias, não é de excluir que o dia de hoje possa trazer alguns desenvolvimentos.
O Presidente Mubarak defende-se prometendo abandonar o cargo em Setembro e que o seu filho não o sucederá. Diz, numa entrevista a uma canal americano, que se abandonasse o cargo agora, o Egipto cairia numa situação de caos. Como se o caos e a violência não se tivessem já instalado nas principais cidades do país.
Tenta-se jogar a carta do fundamentalismo religioso, embora pareça óbvio que esse argumento tem mais impacto externamente do que internamente. Diz-se que se Mubarak cair agora o perigo do radicalismo islâmico tomar conta do país é real. De facto, esse perigo existe, ainda para mais no país da Irmandade Muçulmana. Ainda assim creio que não haverá outra solução que não passe pelo abandono de Mubarak. O perigo do radicalismo vir a tomar conta de um dos países mais importantes da região existe, mas a permanência no poder de Hosni Mubarak deixou de ser alternativa.
A vontade de mudança aliada a algum desespero e ao cerceamento de liberdades é uma combinação difícil de combater, mesmo que se ameace que a alternativa a um regime ditatorial seja o radicalismo. Na verdade, o custo excessivo de bens de primeira necessidade, o desemprego, a inexistência de horizontes, a corrupção, as elites privilegiadas, a inexistência das liberdades mais básicas, a inexistência de eleições verdadeiramente livres (nem todos se podem candidatar, não existe fiscalização judicial do processo, etc) são factores que justificam em pleno a atitude do povo egípcio. Existem perigos e as consequências poderão ser nefastas, mas nenhum de nós pode julgá-los por isso.

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