Avançar para o conteúdo principal

Acordo Ortográfico aplicado no próximo ano lectivo

O ministro da Presidência anunciou que o Acordo Ortográfico será aplicado já no próximo ano lectivo. O tal acordo que não contou com a opinião dos cidadãos; o mesmo acordo que foi feito por políticos de pacotilha à revelia do povo soberano.
Uma das peculiaridades de se escrever sobre o país prende-se com a multiplicidade de assuntos. Com efeito, não é difícil escrever-se diariamente sobre Portugal - há sempre um tópico, há sempre uma notícia que se pode comentar e que dá conta da nossa pobreza a tantos níveis. Mas porventura um dos assuntos mais difíceis de digerir seja precisamente o Acordo Ortográfico. Difícil porque se tratou a língua portuguesa como um bem económico, como um bem que pode ser rentabilizado. Não se descura o impacto que a língua pode ter na economia de um país, mas também não se pode tratar a língua na lógica do negócio face a uma economia que cresce incomensuravelmente, como é o caso da economia do Brasil. A língua é património de um povo, é ofensivo tratar-se este património na lógica do negócio, apenas na lógica do negócio. É disso que se trata.
De igual forma, estas decisões não podem ser tomadas à revelia do povo falante da língua. Os Portugueses não foram consultados e como o silêncio em Portugal é de ouro, também foram poucos os que se manifestaram relativamente ao Acordo. Os representantes eleitos têm legitimidade para tomar decisões, afinal de contas vivemos numa democracia representativa. Todavia, há decisões que pela sua natureza merecem ser alvo de escrutínio directo dos cidadãos. Como seria de esperar num país dirigido por uma classe política arrogante e distante dos cidadãos e habitado por tantos cidadãos amantes do silêncio, esse escrutínio passou a ser uma mera questão de pormenor.
Agora são os mais jovens a aprender a língua com todas as suas alterações, algumas das quais simplesmente desprovidas de sentido. Tudo começa, segundo o ministro da Presidência - essa sumidade -, no próximo ano lectivo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...