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O preço da inércia

Insiste-se na retórica contra a greve geral que se aproxima. Os apelos à inércia são constantes. A ditadura do "não vale a pena" fez e faz escola no nosso país. Pouco interessa se o Estado consome recursos inimagináveis para alimentar clientelas políticas, não mostrando qualquer vontade no sentido de inverter essa situação. Pouco interessa se a classe média empobrece a cada dia que passa; pouco interessa se as empresas, em particular as mais pequenas, sentem constrangimentos cada vez maiores; pouco interessa se o desemprego atinge níveis nunca vistos no nosso país. O que interessa é que perante tudo isto, a inércia é o melhor remédio.
Aliás, foi a inércia que nos trouxe para a situação em que nos encontramos. De resto, o estado deplorável da Justiça, a miséria na Educação, os crimes cometidos em matéria de ordenamento do território, a burocracia endémica, a promiscuidade entre poder político e poder económico e a imensidão de clientelas políticas não são problemas de hoje. É a apatia que tem dado carta branca a quem está no poder.
Hoje já nos dizem que mais direitos terão que ser suprimidos. Aqueles a quem são pedidos renovados e infindáveis sacrifícios têm razões para aderir à greve. O preço a pagar pela inércia está à vista de todos: um país de desigualdades crescentes, um país em que o futuro passou a ser uma questão de somenos.

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