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Crise na Europa

É inquestionável que o projecto europeu vive uma crise sem precedentes. A crise económica, em particular da zona Euro só vem pôr a nu as divergências que grassam no seio da Europa. Altas figuras da União Europeia sublinham a crise e há quem não ponha sequer de parte o fim deste projecto outrora tão promissor.
A moeda única e as políticas monetárias e orçamentais acentuam as divergências, mas talvez mais grave seja a inexistência quase absoluta de um espírito de solidariedade - um dos pilares da construção europeia. A solidariedade entre Estados-membros não parece se coadunar com os interesses de cada país, o que resulta numa União Europeia cada vez mais desunida em que impera o princípio de cada um por si. Sem este princípio de solidariedade que é eminentemente político não há união que sobreviva.
Quanto à moeda única propriamente dita, é cada vez mais evidente que as assimetrias entre países enfraquecem a zona Euro. Sem uma união política, através do federalismo, a moeda única é frágil e provavelmente inexequível. Em países federais como os Estados Unidos, quando um estado atravessa dificuldades é ajudado pelo Estado federal; na zona Euro quando a Grécia esteve em dificuldades - por sua própria culpa é certo - países como a Alemanha mostraram uma relutância contraproducente em ajudar. As consequências são óbvias até para a ditadura dos mercados que olham para a zona Euro e só vêem tibiezas.
Enquanto a união for de natureza apenas económica, a Europa é coxa e é o próprio euro que está em causa. O mais grave é que no meio de tanta desunião, não se vislumbram lideranças capazes de inverter a crise europeia, pelo contrário, vê-se um conjunto de políticos rendidos aos interesses dos países e ao populismo. A crise da Europa é também uma crise de lideranças.

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