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Apelos à resignação

São inúmeros os apelos à resignação. Desde a televisão, passando por comentadores de cartilha, culminando no comum dos cidadãos, dizem-nos que não há nada a fazer, que lá fora passa-se o mesmo ou ainda pior, e que este sistema é ainda assim o melhor. Na verdade, parte-se do pressuposto que sendo este o sistema que melhor serve os interesses dos cidadãos, o tal que permitiu o desenvolvimento dos países, não valerá a pena tentar melhorá-lo.
De um modo geral, aquilo que nos pedem é para baixar os braços e para aguentar. O sistema é bom (ver crónica de João César das Neves no Diário de Notícias de 25/10/10), o que retira força aos protestos dos cidadãos. Todavia, os arautos deste sistema esquecem-se do seguinte: as grandes conquistas sociais - o melhor do sistema tão elogiado - foram conseguidas graças à mobilização dos cidadãos, aos movimentos sindicais e aos partidos de esquerda. Ou será que os arautos da resignação também esquecem que são precisamente essas conquistas sociais que fazem com o sistema seja aceite? Ou será que o sistema idealizado por muitos dos tais arautos da resignação aproxima-se do modelo chinês?
Importa sublinhar que quando se coloca em causa as conquistas sociais, os cidadãos recusam a resignação. Talvez isso não seja verdade em Portugal, mas já é verdade em França e a ver vamos se não será verdade noutros países.
Em suma, é ridículo fazer apelos à resignação com base nas virtudes do sistema. É ridículo não ver que a mobilização dos cidadãos e a sua procura em melhorar as suas vidas é um dos motores do desenvolvimento das sociedades democráticas.

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