Avançar para o conteúdo principal

Consequências de se querer tirar o pouco que muitos têm

Sabe-se hoje quais as consequências de se querer tirar o pouco que muitos têm, pelo menos a julgar pela última sondagem que dá uma descida de Pedro Passos Coelho em 10,4 pontos percentuais. A sondagem foi feita depois de se conhecer o anteprojecto de revisão constitucional do PSD.
É evidente que muitos cidadãos não aceitaram as propostas de subversão do Estado Social e de maior desprotecção dos trabalhadores. Por muito que Passos Coelho afastasse a imagem de liberal, foi esse liberalismo que advoga um Estado minimalista que contribuiu inexoravelmente para a descida que se verificou nas sondagens. Com efeito, as pessoas não querem perder o pouco que têm e isso é determinante. O líder do PSD pode alegar que não se trata de uma proposta que visa liquidar o Estado Social, mas a sua inequívoca subversão assustou muitos cidadãos. Percebe-se a necessidade de reformar o Estado, acabar com o despesismo, anular a promiscuidade entre empresas e Estado, melhorar uma Justiça que não convence ninguém, aumentar a qualidade de ensino, esboroar a burocracia. Tudo isto é possível fazer sem subverter a essência do Estado Social, preservando-o, melhorando-o naquilo que for preciso. Não foi isso que Passos Coelho propôs e as consequências estão à vista de todos.
Com isto, o PS cresce, embora ainda significativamente afastado da liderança do PSD. O Governo responsável pelo empobrecimento do país recebe um prémio no sentido contrário ao do PSD que é penalizado.
Já aqui referi que a exiguidade das escolhas políticas em Portugal configura um verdadeiro paroxismo. De um lado, há o empobrecimento, de outro há a liquidação do pouco que as pessoas têm e, não esquecer, que ainda há quem defenda modelos de desenvolvimento económico-sociais falidos. Não será seguramente com estes senhores que o país vai retomar o tão almejado caminho do desenvolvimento. Com uma pobreza galopante, sem aspirações de futuro ou com propostas que tiram o pouco que as pessoas têm e que são, no fundo, características indissociáveis da própria democracia na Europa - o Estado Social -, o desenvolvimento do país continuará a ser uma mera miragem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...